Política na Antiguidade
A Antiguidade surge como um período histórico de
fundamental importância, destacadamente por suas criações e legados, muitos dos
quais essenciais ao conhecimento produzido pelas sociedades humanas.
Espaço de elaboração dos primeiros sistemas de escrita, do teatro, dos jogos olímpicos e de boa parte das áreas do conhecimento, a Antiguidade assistiu igualmente ao surgimento das primeiras cidades e, com elas, do aparecimento do Estado enquanto instituição capaz de regulamentar o convívio entre os homens. A partir de então, o crescente nível de complexidade das civilizações comportou também o fortalecimento das relações políticas.
Espaço de elaboração dos primeiros sistemas de escrita, do teatro, dos jogos olímpicos e de boa parte das áreas do conhecimento, a Antiguidade assistiu igualmente ao surgimento das primeiras cidades e, com elas, do aparecimento do Estado enquanto instituição capaz de regulamentar o convívio entre os homens. A partir de então, o crescente nível de complexidade das civilizações comportou também o fortalecimento das relações políticas.
Política
Em linhas gerais, os sistemas de governo da Antiguidade baseavam-se em estruturas teocráticas, por meio das quais uma elite política abalizava seu poder através de argumentos de natureza religiosa. No Egito Antigo, por exemplo, a figura do Faraó era percebida como um enviado dos deuses, quando não a própria reencarnação divina, o que certamente lhe valia como poderosa justificativa à legitimação do seu poder. Nos povos mesopotâmicos, assim como em grande parte das demais civilizações do período, eram frequentes as interferências do sacerdote em assuntos políticos.
Em linhas gerais, os sistemas de governo da Antiguidade baseavam-se em estruturas teocráticas, por meio das quais uma elite política abalizava seu poder através de argumentos de natureza religiosa. No Egito Antigo, por exemplo, a figura do Faraó era percebida como um enviado dos deuses, quando não a própria reencarnação divina, o que certamente lhe valia como poderosa justificativa à legitimação do seu poder. Nos povos mesopotâmicos, assim como em grande parte das demais civilizações do período, eram frequentes as interferências do sacerdote em assuntos políticos.
Neste cenário, portanto, a política era
hierarquicamente organizada, sendo a efetiva participação nos debates públicos
destinada a um seleto grupo de indivíduos. Estes, então, constituíam poderosas
aristocracias cujas prerrogativas estavam baseadas na tradição familiar ou,
como dissemos, em alegações religiosas.
No entanto, se por um lado é irrefutável o caráter
excludente da política na Antiguidade, por outro manifestam-se neste momento
experiências políticas que proporcionaram a um número maior de governados a
possibilidade de expressarem suas opiniões. Podemos tomar como exemplo, por sua
relevância histórica, a Democracia Ateniense.
Experiência ateniense
O que conhecemos por Grécia Antiga refere-se à
união de diversas regiões politicamente independentes (as chamadas
cidades-Estados gregas), mas que possuíam aspectos que as unificavam
culturalmente: o fato de possuírem o mesmo idioma, costumes semelhantes e
aproximações históricas são alguns destes elementos.
Atenas, uma das principais cidades-Estados da
Grécia
Neste mundo grego, as duas cidades-Estados de maior
destaque, Atenas e Esparta, possuíam sistemas de governo frontalmente
diferentes. Enquanto esta última era administrada por uma oligarquia
militarizada, a cidade de Atenas esteve alicerçada em bases mais democráticas,
cabendo a todos os seus cidadãos o direito de debater os destinos da
coletividade. O próprio sistema educacional ateniense, compromissado com uma
formação baseada na reflexão e debate acerca da realidade, salienta este traço
da política de Atenas.
Entretanto, não podemos esquecer que a noção de
cidadania ateniense era extremamente limitada se comparada aos dias de hoje. As
mulheres, por exemplo, eram normalmente excluídas dos debates políticos, assim
como escravos, estrangeiros e indivíduos não-abastados. De tal modo, o cidadão
ateniense era necessariamente do sexo masculino, livre e detentor de
propriedades, o que afastava a maioria da população da política estatal e
detinha nas mãos de poucos o direito à educação.
Consolidação democrática
Na verdade, debates acerca do desenvolvimento de
organizações políticas solidamente democráticas, onde governantes e governados
tivessem uma relação baseada em pactos mais igualitários, só puderam ser
assistidos mais vastamente com o advento da modernidade. Notadamente a partir
do século XVIII – o Século do Iluminismo – boa parte do mundo ocidental passa a
refletir sobre a necessidade de se estabelecer critérios de cidadania mais
amplos, fundamentados na igualdade jurídica entre os indivíduos. Além disso,
baseados nas ideias de pensadores como Voltaire e Rousseau, diversos grupos
sociais salientam a necessidade de separação entre assuntos políticos e
religiosos, advogando a constituição de governos laicos.
Ao longo dos séculos seguintes diversos povos passaram
a adotar, com maior ou menor impacto, noções mais amplas de cidadania, muito
embora ainda hoje possamos notar a existência de ditaduras teocráticas,
caudilhismos e tiranias de outras naturezas. A própria constituição da
cidadania brasileira, por exemplo, tem sido elaborada através de um processo de
avanços e recuos: se por um lado o século XX nos ofertou o direito de voto às
mulheres e analfabetos, por outro a existência de práticas coronelistas como a
“compra de votos” emperram o desenvolvimento de nossa cidadania em sua
plenitude.
Frases de Platão:
"A educação deve propiciar ao corpo e à alma
toda a perfeição e a beleza que podem ter"
"Ao longo dos anos, os antigos encontraram uma
boa receita para a educação: ginástica para o corpo e música para a alma"
Platão nasceu por volta de 427 a.C. em uma família aristocrática de Atenas.
Quando tinha cerca de 20 anos, aproximou-se de Sócrates, por quem tinha grande
admiração. Como a maioria dos jovens de sua classe, quis entrar na política.
Contudo, a oligarquia e a democracia lhe desagradaram. Com a condenação de
Sócrates à morte, Platão decidiu se afastar de Atenas e saiu em viagem pelo
mundo. Numa de suas últimas paradas, esteve na Sicília, onde fez amizade com
Dion, cunhado do rei de Siracusa, Dionísio I. De volta a Atenas, com cerca de
40 anos, Platão fundou a Academia, um instituto de educação e pesquisa
filosófica e científica que rapidamente ganhou prestígio. Três décadas depois,
ele foi convidado por Dion a viajar a Siracusa para educar seu sobrinho
Dionísio II, que se tornara imperador. A missão foi frustrada por intrigas
políticas que terminaram num golpe dado por Dion. Platão morreu por volta de
347 a.C. Já era um homem admirado em toda Atenas.
Na história das idéias, Platão foi o primeiro pedagogo, não só por ter
concebido um sistema educacional para o seu tempo, mas, principalmente, por
tê-lo integrado a uma dimensão ética e política. O objetivo final da educação,
para o filósofo, era a formação do homem moral, vivendo em um Estado justo.
Platão foi o segundo da tríade dos grandes filósofos clássicos, sucedendo
Sócrates (469-399 a.C.) e precedendo Aristóteles (384-322 a.C.), seu discípulo.
Como Sócrates, Platão rejeitava a educação que se praticava na Grécia em sua
época e que estava a cargo dos sofistas, incumbidos de transmitir conhecimentos
técnicos - sobretudo a oratória - aos jovens da elite, para torná-los aptos a
ocupar as funções públicas. "Os sofistas afirmavam que podiam defender
igualmente teses contrárias, dependendo dos interesses em jogo", diz
Sérgio Augusto Sardi, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio
Grande do Sul. "Platão, ao contrário, pensava em termos de uma busca
continuada da virtude, da justiça e da verdade."
Para Platão, "toda virtude é conhecimento". Ao homem virtuoso,
segundo ele, é dado conhecer o bem e o belo. A busca da virtude deve prosseguir
pela vida inteira - portanto, a educação não pode se restringir aos anos de
juventude. Educar é tão importante para uma ordem política baseada na justiça -
como Platão preconizava - que deveria ser tarefa de toda a sociedade.
O ideal da escola pública
Baseado na ideia de que os cidadãos que têm o
espírito cultivado fortalecem o Estado e que os melhores entre eles serão os
governantes, o filósofo defendia que toda educação era de responsabilidade
estatal - um princípio que só se difundiria no Ocidente muitos séculos depois.
Igualmente avançada, quase visionária, era a defesa da mesma instrução para
meninos e meninas e do acesso universal ao ensino.
Contudo, Platão era um opositor da democracia - há
estudiosos que o consideram um dos primeiros idealizadores do totalitarismo. O
filósofo via no sistema democrático que vigorava na Atenas de seu tempo uma
estrutura que concedia poder a pessoas despreparadas para governar. Quando
Sócrates, que considerava "o mais sábio e o mais justo dos homens",
foi condenado à morte sob acusação de corromper a juventude, Platão
convenceu-se, de uma vez por todas, de que a democracia precisava ser
substituída.
Para ele, o poder deveria ser exercido por uma espécie de aristocracia, mas não
constituída pelos mais ricos ou por uma nobreza hereditária. Os governantes
tinham de ser definidos pela sabedoria. Os reis deveriam ser filósofos e
vice-versa. "Como pode uma sociedade ser salva, ou ser forte, se não tiver
à frente seus homens mais sábios?", escreveu Platão.
Estudo permanente
A educação, segundo a concepção platônica, visava a
testar as aptidões dos alunos para que apenas os mais inclinados ao
conhecimento recebessem a formação completa para ser governantes. Essa era a
finalidade do sistema educacional planejado pelo filósofo, que pregava a
renúncia do indivíduo em favor da comunidade. O processo deveria ser longo,
porque Platão acreditava que o talento e o gênio só se revelam aos poucos.
A formação dos cidadãos começaria antes mesmo do nascimento, pelo planejamento
eugênico da procriação. As crianças deveriam ser tiradas dos pais e enviadas
para o campo, uma vez que Platão considerava corruptora a influência dos mais
velhos. Até os 10 anos, a educação seria predominantemente física e constituída
de brincadeiras e esporte. A ideia era criar uma reserva de saúde para toda a
vida. Em seguida, começaria a etapa da educação musical (abrangendo música e
poesia), para se aprender harmonia e ritmo, saberes que criariam uma propensão
à justiça, e para dar forma sincopada e atrativa a conteúdos de Matemática,
História e Ciência. Depois dos 16 anos, à música se somariam os exercícios
físicos, com o objetivo de equilibrar força muscular e aprimoramento do
espírito.
Aos 20 anos, os jovens seriam submetidos a um teste para saber que carreira
deveriam abraçar. Os aprovados receberiam, então, mais dez anos de instrução e
treinamento para o corpo, a mente e o caráter. No teste que se seguiria, os
reprovados se encaminhariam para a carreira militar e os aprovados para a
filosofia - neste caso, os objetivos dos estudos seriam pensar com clareza e
governar com sabedoria. Aos 35 anos, terminaria a preparação dos
reis-filósofos. Mas ainda estavam previstos mais 15 de vida em sociedade,
testando os conhecimentos entre os homens comuns e trabalhando para se
sustentar. Somente os que fossem bem-sucedidos se tornariam governantes ou
"guardiães do Estado".
O aprendizado como reminiscência
Platão defendia a ideia de que a alma precede o
corpo e que, antes de encarnar, tem acesso ao conhecimento. Dessa forma, todo
aprendizado não passaria de um esforço de reminiscência - um dos princípios
centrais do pensamento do filósofo. Com base nessa teoria, que não encontra eco
na ciência contemporânea, Platão defendia uma ideia que, paradoxalmente,
sustenta grande parte da pedagogia atual: não é possível ou desejável
transmitir conhecimentos aos alunos, mas, antes, levá-los a procurar respostas,
eles mesmos, a suas inquietações. Por isso, o filósofo rejeitava métodos de
ensino autoritários. Ele acreditava que se deveria deixar os estudantes,
sobretudo as crianças, à vontade para que pudessem se desenvolver livremente.
Nesse ponto, a pedagogia de Platão se aproxima de sua filosofia, em que a busca
da verdade é mais importante do que dogmas incontestáveis. O processo dialético
platônico - pelo qual, ao longo do debate de ideias, depuram-se o pensamento e
os dilemas morais - também se relaciona com a procura de respostas durante o
aprendizado. "Platão é do mais alto interesse para todos que compreendem a
educação como uma exigência de que cada um, professor ou aluno, pense sobre o
próprio pensar", diz o professor Sardi.
A Alegoria da Caverna
O mito ou “Alegoria” da caverna é uma das passagens mais clássicas da
história da Filosofia, sendo parte constituinte do livro VI de “A República”
onde Platão discute sobre teoria do conhecimento, linguagem e educação na
formação do Estado ideal.
A narrativa expressa dramaticamente a imagem de prisioneiros que desde o
nascimento são acorrentados no interior de uma caverna de modo que olhem
somente para uma parede iluminada por uma fogueira. Essa, ilumina um palco onde
estátuas dos seres como homem, planta, animais etc. são manipuladas, como que
representando o cotidiano desses seres. No entanto, as sombras das estátuas são
projetadas na parede, sendo a única imagem que aqueles prisioneiros conseguem
enxergar. Com o correr do tempo, os homens dão nomes a essas sombras (tal como
nós damos às coisas) e também à regularidade de aparições destas. Os
prisioneiros fazem, inclusive, torneios para se gabarem, se vangloriarem a quem
acertar as corretas denominações e regularidades.
Imaginemos agora que um destes prisioneiros é forçado a sair das amarras
e vasculhar o interior da caverna. Ele veria que o que permitia a visão era a
fogueira e que na verdade, os seres reais eram as estátuas e não as sombras.
Perceberia que passou a vida inteira julgando apenas sombras e ilusões,
desconhecendo a verdade, isto é, estando afastado da verdadeira realidade. Mas
imaginemos ainda que esse mesmo prisioneiro fosse arrastado para fora da
caverna. Ao sair, a luz do sol ofuscaria sua visão imediatamente e só depois de
muito habituar-se com a nova realidade, poderia voltar a enxergar as maravilhas
dos seres fora da caverna. Não demoraria a perceber que aqueles seres tinham
mais qualidades do que as sombras e as estátuas, sendo, portanto, mais reais.
Significa dizer que ele poderia contemplar a verdadeira realidade, os seres
como são em si mesmos. Não teria dificuldades em perceber que o Sol é a fonte
da luz que o faz ver o real, bem como é desta fonte que provém toda existência
(os ciclos de nascimento, do tempo, o calor que aquece etc.).
Maravilhado com esse novo mundo e com o conhecimento que então passara a
ter da realidade, esse ex-prisioneiro lembrar-se-ia de seus antigos amigos no
interior da caverna e da vida que lá levavam. Imediatamente, sentiria pena
deles, da escuridão em que estavam envoltos e desceria à caverna para lhes
contar o novo mundo que descobriu. No entanto, como os ainda prisioneiros não
conseguem vislumbrar senão a realidade que presenciam, vão debochar do seu
colega liberto, dizendo-lhe que está louco e que se não parasse com suas
maluquices acabariam por matá-lo.
Este modo de contar as coisas tem o seu significado: os prisioneiros
somos nós que, segundo nossas tradições diferentes, hábitos diferentes,
culturas diferentes, estamos acostumados com as noções sem que delas reflitamos
para fazer juízos corretos, mas apenas acreditamos e usamos como nos foi
transmitido. A caverna é o mundo ao nosso redor, físico, sensível em que as
imagens prevalecem sobre os conceitos, formando em nós opiniões por vezes
errôneas e equivocadas, (pré-conceitos, pré-juízos). Quando começamos a descobrir
a verdade, temos dificuldade para entender e apanhar o real (ofuscamento da
visão ao sair da caverna) e para isso, precisamos nos esforçar, estudar,
aprender, querer saber. O mundo fora da caverna representa o mundo real, que
para Platão é o mundo inteligível por possuir Formas ou Ideias que guardam
consigo uma identidade indestrutível e imóvel, garantindo o conhecimento dos
seres sensíveis. O inteligível é o reino das matemáticas que são o modo como
apreendemos o mundo e construímos o saber humano. A descida é a vontade ou a
obrigação moral que o homem esclarecido tem de ajudar os seus semelhantes a
saírem do mundo da ignorância e do mal para construírem um mundo (Estado) mais
justo, com sabedoria. O Sol representa a Ideia suprema de Bem, ente supremo que
governa o inteligível, permite ao homem conhecer e de onde deriva toda a
realidade (o cristianismo o confundiu com Deus).
Portanto, a alegoria da caverna é um modo de contar imageticamente o que
conceitualmente os homens teriam dificuldade para entenderem, já que, pela
própria narrativa, o sábio nem sempre se faz ouvir pela maioria ignorante.
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