ÉTICA II




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SEMANA 1:
·      O contexto ético anterior a Aristóteles e os conceitos-chave da ética aristotélica

Existe uma profunda ligação entre ética e filosofia: a ética nunca pode deixar de ter como fundamento uma concepção filosófica do homem que nos dá uma visão total deste como um ser social e histórico. Dentre os vários conceitos com os quais a ética trabalha e que pressupõe um prévio esclarecimento filosófico, como os de liberdade, necessidade, valor, consciência, vamos dar ênfase ao de sociabilidade, ou seja, como a ética deve estar inserida nas relações humanas em sociedade.
            A ação humana é fruto de uma escolha entre o certo e o errado, e entre o que é bom e o que é mal. O indivíduo procura se basear em parâmetros socialmente aceitos que lhe permite conviver com as outras pessoas, em outras palavras, ele busca sempre se guiar pelos conceitos que norteiam a prática dos valores positivos e das qualidades humanas. A ética não somente serve de base para as relações humanas, mas, trata também das relações sociais dos homens na medida em que os filósofos consideram a ética como base da justiça ou do direito, e até mesmo das leis que regulam a convivência entre todos que vivem na sociedade.
            Primeiramente pra entendermos sobre a ética devemos pelo conceito filosófico entender que é a área que investiga o comportamento humano em suas relações entre si, considerando conceitos utilizados para avaliá-las como: valor, virtude, justiça, moral, bem, normas morais, dever, liberdade e principalmente responsabilidade; promove também reflexões sobre a busca humana pelas melhores formas de agir, viver e conviver. De forma mais específica, segundo Gilberto Cotrim,

A ética é uma disciplina teórica sobre uma prática humana, que é o comportamento moral... A ética tem também preocupações práticas. Ela orienta-se pelo desejo de unir o saber ao fazer. Como filosofia prática, isto é, disciplina teórica com preocupações práticas, a ética busca aplicar o conhecimento sobre o ser para construir aquilo que deve ser (COTRIM, 2004, p.264).

            Como teoria filosófica, a ética se caracteriza como estudo das ações individuais dos homens, cuja finalidade consiste em elaborar uma orientação normativa para as ações humanas que seja estabelecido como bem. Com o filósofo grego Aristóteles a ética passou a ser a “ciência do moral”, ou seja do caráter e das disposições do espírito. Enfatizamos que a ética é um conjunto de argumentos que são utilizados pelos indivíduos para justificar suas ações, solucionando com diferentes problemas em que há o conflito de interesses com bases em argumentos universais. Ou salientamos que a ética é uma filosofia responsável por estudar a moral, contestando e identificando o que podemos chamar de regras morais vigentes, as quais são alteradas com o tempo. A Ética como teoria filosófica tem por objetivo estudar o comportamento dos indivíduos frente aos apelos morais da sociedade em que este vive. Ela se manifesta de diferentes maneiras conforme a cultura, costumes e hábitos de determinadas populações.
            As reflexões da ética abrangem aspectos da vida pública e das leis estabelecidas no plano social para a existência humana. Envolvem questões ligadas ao direito, ao poder, a cidadania e a política, e abrange também aspectos da vida privada, analisando algumas questões morais de foro íntimo ligadas as condutas e escolhas de indivíduos em nosso cotidiano, e são elas que determinam o modo como cada um convive consigo próprio e com os outros.
            As respostas filosóficas para as questões éticas variam no tempo e no espaço, e ainda apresentam uma característica fundamental que envolve a posição dos indivíduos em relação ao valor e as virtudes que são defendidos em seu meio cultural. Com isso, os filósofos investigam o que leva diferentes grupos sociais a se enfatizarem sobre questões e valores semelhantes, sem ignorar que, os significados atribuídos a eles nem sempre são os mesmos. Há filósofos que concebem o homem como um ser dotado de um senso moral inato, ou seja, da capacidade natural para avaliar como as coisas e como elas deveriam ser. Alguns acreditam que as diversas tendências culturais e individuais atuam sempre sobre a capacidade comum entre os seres humanos e são determinantes da formação do caráter e da personalidade. E há filósofos que afirmam a existência da liberdade, ressaltando sempre que, apesar da pressão de costumes e leis, nós sempre podemos refletir sobre as questões éticas e sobre a moral aprendida, e que, segundo eles, há uma possibilidade que nos faz responsáveis por nossas próprias escolhas e que nos permite contribuir para a renovação com as normas com que nos deparamos no dia a dia.
             Nos tempos áureos da filosofia grega a justiça e todas as demais virtudes éticas eram políticas e sociais, o que denota uma certa inseparabilidade entre a ética e política, ou seja, está relacionado entre a conduta do indivíduo e os valores da sociedade.
            No pensamento dos Antigos filósofos a existência humana só pode ser pensada em sociedade onde os seres humanos aspiram ao bem e a felicidade, que só pode ser alcançada pela conduta virtuosa. Além disso, existe uma preocupação constante com a busca dos valores morais inscritos no interior do próprio homem, como acreditava Sócrates. Dessa forma – para ser ético – o homem deveria entrar em contato com a sua própria essência, a fim de alcançar a perfeição. O homem, como qualquer ser, busca a sua perfeição, que acontecerá quando sua essência estiver plenamente realizada.  E como afirma Mondin, “A ética ou moral... é o estudo da atividade humana com relação a seu fim último que é a realização plena da humanidade” (1980, p.91)
            Sócrates, que se tornou símbolo da própria filosofia, dedicou atenção especial as questões éticas, sendo que ele julgava o ser humano que era dotado de uma natureza racional e voltada para o bem. Ele tentava sempre compreender a essência das virtudes e do bem, tal como a justiça, a prudência, a coragem, e entre outras. Sócrates de alguma forma procurava saber dos cidadãos atenienses sobre a virtude, a essência, saber se uma conduta é boa ou não, e porque o bem é uma virtude e o mal um erro, e com tudo isso as perguntas ética-socráticas não estão destinadas somente ao indivíduo, mas também a sociedade.
            Pode-se resumir a ética dos antigos em pelo menos dois aspectos: o agir em conformidade com a razão e a união permanente entre ética (a conduta do indivíduo) e política (valores da sociedade). A ética é uma maneira de educar o sujeito moral (seu caráter) no intuito de propiciar a harmonia entre o mesmo e os valores coletivos.
            Na Idade Média a Filosofia sofrerá uma forte influência da tradição cristã. Uma vez, que todos os Filósofos deste período são teólogos, bispos, abades e padres. Dessa forma a filosofia permanecerá, ao longo de todo período medieval, subordinada a teologia, de tal modo, que é impossível separar o pensamento filosófico da tradição grega, do pensamento teológico cristão. Neste caso a vida ética era definida por sua relação espiritual e interior com Deus e pela caridade com o seu próximo, por meio da revelação divina. A ética cristã se fundamenta no amor, no qual foi colocado como primeiro e maior mandamento: o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo. É no amor que o cristianismo encontra sua realização espiritual mais profunda e as bases fundamentais para a vida em sociedade.
            Os primeiros filósofos cristãos procuravam conciliar fé e razão como instrumento de análise e reflexão. A partir desse pressuposto a filosofia insurge no campo da ética cristã, como tentativa de justificar seus princípios e normas de comportamento, se submetendo a lei divina revelada pelas Sagradas Escrituras implicando uma determinação racional do próprio conteúdo sobrenatural da Revelação, mediante uma disciplina específica, a teologia dogmática.
            Assim como Sócrates e Platão, o bispo, teólogo e filósofo do início da Idade Média, Santo Agostinho, foi um homem profundamente voltado para a sua interioridade, uma vez que é nessa interioridade, que podemos realizar nosso encontro com Deus e nossa verdadeira essência. É dentro desta perspectiva de uma filosofia introspectiva que Agostinho agrega uma série de conceitos fundamentais. Os filósofos medievais herdaram elementos da tradição filosófica grega, reconfigurando-se no interior de uma ética cristã e tal como Santo Agostinho, a filosofia de São Tomás de Aquino representa uma aproximação entre fé e razão mas, neste caso, usando o pensamento aristotélico como base fundamental. Inspirado na filosofia aristotélica e amparado na visão cristã de mundo, Aquino reflete sobre a conduta ética que é aquela na qual o agente sabe o que está e o que não está em seu poder realizar, referindo-se, ao que é possível e desejável para um ser humano. A ética tomista também deve ser trabalhada no âmbito da sociedade. Analisando a natureza humana, resulta que o homem é um animal social (político) e, portanto, forçado a viver em sociedade com os outros homens. A primeira forma da sociedade humana é a família, de que depende a conservação do gênero humano; a segunda forma é o Estado, de que depende o bem comum dos indivíduos. Sendo que apenas o indivíduo tem realidade substancial e transcendente, se compreende como o indivíduo não é um meio para o Estado, mas o Estado um meio para o indivíduo. Segundo Tomás de Aquino, o Estado não tem apenas função negativa (repressiva) e material (econômica), mas também positiva (organizadora) e espiritual (moral). Embora o Estado seja completo em seu gênero, fica, porém, subordinado, em tudo quanto diz respeito à religião e à moral, à Igreja, que tem como escopo o bem eterno das almas, ao passo que o Estado tem apenas como escopo o bem temporal dos indivíduos.
            Mas não foi apenas na antiguidade e na Idade Média que os filósofos tiveram essa preocupação ética e social. Longe de pretender fazer uma análise sistemática das mais diferentes visões filosóficas sobre o assunto vamos apenas ressaltar as duas correntes que já mencionamos no início do texto. A primeira sobre a qual já falamos, corresponde às ideias de filósofos como Sócrates e Santo Agostinho que acreditam que o ser humano é dotado de um senso moral inato, ou seja, da capacidade natural para avaliar como as coisas e como elas deveriam ser e, desta forma, a questão de como devemos nos comportar e agir em sociedade passa por uma questão de foro íntimo e espiritual, introspectivo, que pode ser resumida na frase: “conhece-te a ti mesmo”. Mas essa visão não é a única e filósofos há que acreditam que que as diversas tendências culturais são determinantes da formação do caráter e da personalidade e por isso dão uma ênfase maior em como os aspectos sociais e culturais são determinantes das relações humanas.
            Um exemplo desta perspectiva nós encontramos no século XIX, com o filósofo alemão Friedrich Hegel, que aprofundou de maneira ímpar a perspectiva Homem – Cultura e História, sendo que a ética deve ser determinada pelas relações sociais. Como sujeitos históricos culturais, nossas ações devem ser determinadas pela harmonia entre vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural. O homem é visto como sujeito histórico-social, e como tal sua ação não pode mais ser analisada fora da coletividade, por isso a ética ganha um dimensionamento político: uma ação eticamente boa é politicamente boa, e contribui para o aumento da justiça e distribuição igualitária do poder entre os homens. O ideal ético para Hegel estava numa vida livre dentro de um Estado livre, um Estado de direito, que preservasse os direitos dos homens e lhes cobrasse seus deveres, onde a consciência moral e as leis do direito não estivessem nem separadas e nem em contradição. E os grandes problemas éticos se encontram em três momentos da eticidade que são a família, a sociedade civil e o Estado, e uma ética concreta não pode ignorá-los (VALLS, 1994).
            Em relação à sociedade civil os problemas atuais continuam os mais urgentes: referem-se ao trabalho e à propriedade. Não é um problema ético a falta de trabalho, o desemprego, as formas escravizadoras do trabalho, quando a maioria não recebe as condições mínimas nem de salário nem de infra estrutura para sobreviver? Em relação ao Estado, os problemas, éticos são muito ricos e complexos. A liberdade do indivíduo só se completa como liberdade do cidadão de um Estado livre e de direito. As leis, a Constituição, as declarações de direitos, a definição dos poderes, a divisão destes poderes para evitar abusos, e a própria prática das eleições periódicas aparecem hoje como questões éticas fundamentais.
            Uma outra perspectiva de uma moral social encontramos no sociólogo Émile Durkheim. A comparação que Durkheim faz da sociedade com um organismo biológico traz ricas analogias. A sociedade é um imenso corpo social, como um “organismo biológico” (o conjunto das instituições sociais formam este corpo), possuindo vários órgãos (entre eles: a família, o Estado, a escola, a Igreja), cada qual com suas funções específicas de modo que a “anatomia social” será saudável se todos os órgãos funcionarem bem. Durkheim leva essa analogia ainda mais além quando afirma que a partir do momento em que um desses órgãos deixa de funcionar convenientemente, todo corpo social se ressente e adoece. E o que torna saudável uma sociedade, fazendo com que ela funcione harmoniosamente, é a existência de uma moral social. Cabe aos indivíduos desenvolver planos de ação que possam influir na transformação dos aspectos deficientes da sociedade a partir de valores que possam orientar, efetivamente, a conduta social dos indivíduos. Vale destacar aqui, a importância que a ideia de solidariedade representa no pensamento do sociólogo francês. A solidariedade, dentro do contexto das regras morais e sociais, pode e deve contribuir para a harmonia da sociedade.
            Enfim, qual a contribuição que a Filosofia e, por sua vez, a Ética, podem oferecer para nós, homens e mulheres do século XXI? No momento histórico em que vivemos existe um problema ético-político grave. O Brasil sempre quis ser visto o país dos justos, da democracia, da ética acima de tudo, porém não é bem essa a realidade vivida por todos. Verifica-se uma realidade conflitante fundamentada em uma crise de sentido e de valores que se apresenta na vida pessoal e nas relações sociais das pessoas. A partir desse contexto percebe-se uma inquietação acerca do sentido da vida e do papel do “ser no mundo”, vindo assim a reaparecer com mais força o interesse pelo tema da ética, enquanto coluna vertebral da reflexão sobre a conduta do ser humano e seus valores. Não é suficiente para o homem comum e contemporâneo superar a crise da ética atual conhecendo o outro e suas necessidades para se chegar a sua convivência harmônica. Não há como superar esta crise sem um modelo de ética voltada para uma comunidade, como na polis grega. Hoje se aposta no individualismo, na competição, na sociedade do espetáculo e do consumo.
            Acerca das reflexões sobre o ponto de vista dos filósofos, fica claro o entendimento sobre a ética, sendo um elemento imprescindível na sociedade. Somos formados por princípios e valores que estão relacionados a nossa cultura e esses fatores são essenciais, para a formação do nosso caráter no que diz respeito a nossa conduta ética e moral de modo que, irremediavelmente, o que se entende por Filosofia e Ética está relacionado ao conhecimento e comportamento do indivíduo na sociedade.

Referências Bibliográficas

COTRIM, Gilberto. Fundamentos de Filosofia. 15ª Ed. São Paulo: Saraiva 2004.
MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. Tradução de J. Renard. São Paulo: Paulus, 1980.
VALLS, Álvaro L. M. O que é ética. São Paulo: Editora Brasiliense, 1994. (Coleção Primeiros Passos, 177)

http://www.portalconscienciapolitica.com.br/products/filosofia-etica-e-sociedade/


Platão (428-348 a.C.) foi discípulo de Sócrates e escreveu trinta diálogos considerados autênticos. Hoje conhecemos a figura de Sócrates graças aos seus diálogos, que faziam dele seu personagem principal. Platão fundou a primeira escola conhecida no mundo ocidental na cidade de Atenas em 387 a.C, chamada Academia, em homenagem ao herói Grego Academus, que lutou na guerra de Tróia. Seu verdadeiro nome era Aristocles, mas foi apelidado de Platão devido aos seus ombros largos.   Era um homem rico e fazia parte da aristocracia que governava a Grécia.  Seu pai, Aristão, tinha o rei Codros como seu antepassado e sua mãe, Perictione, foi parente de Sólon.

            O pensamento de Platão  foi muito influenciado pelas filosofias de Heráclito e Parmênides. Ele procurou reconciliar ambas as posições. Foi da controvérsia dessas duas filosofias que surgiu a “teoria das idéias”, núcleo central de sua filosofia. O problema que Platão propõe a resolver é o conflito “irreconciliável” entre a teoria da mudança em Heráclito e Parmênides.  Para Heráclito no universo não há nada acabado, fixo e estável, tudo está em permanente mudança. Sua metafísica identifica o Ser com o Não-Ser. Se o mundo é devir, vir-a-ser,  não existe um Ser fixo, estável,  ele está sempre se transformando, é sempre impermanente.   Já para Parmênides as coisas que existem tem múltiplas características, são pequenas, grandes, coloridas, pesadas, leves, são diferentes, como homem, animal, água, fogo, etc. Se usarmos a intuição e o raciocínio, perceberemos que há uma propriedade fixa em todas as coisas: elas “são”. Para Parmênides, o ser é uma propriedade de todas as coisas. Tudo que existe tem “Ser”. O Ser  é fixo, eterno, imutável, infinito. Dessa forma, as mudanças e transformações que ocorrem na natureza são uma ilusão de nossa percepção, pois algo que é não pode deixar de ser, e algo que não é não pode vir-a-ser, portanto, não há mudança.

           Para reconciliar ambas as teorias, Platão mostrou-nos que todos nós estamos sempre em contato com duas realidades: uma inteligível e outra sensível. A primeira é permanente, universal, nunca se modifica, é o mundo das idéias. A segunda é o mundo que percebemos por nossos sentidos, mutável e contingente, o mundo sensível.  Platão demonstra que o mundo tem uma forma apriori, uma estrutura inteligível.  “Através dos diálogos, Platão vai caracterizando essas causas inteligíveis dos objetos físicos que ele chama de idéias ou formas. Elas seriam incorpóreas e invisíveis – o que significa dizer justamente que não está na matéria a razão de sua inteligibilidade. Seriam reais, eternas e sempre idênticas a si mesmo, escapando a corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos físicos. Merecem por isso mesmo, o qualificativo de ‘divinas’ (…). Perfeitas e imutáveis, as idéias constituiriam os modelos ou paradigmas dos quais as coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e transitórias. Seriam, pois, tipos ideais, a transcender o plano mutável dos objetos físicos.” (Pessanha, 1987, XVI-II).

         A teoria das idéias de Platão está diretamente ligada a sua teoria da alma.   Na parte IV do seu livro “República” Platão concebe o homem como corpo e alma. Enquanto o corpo modifica-se e envelhece, a alma é imutável, eterna e divina. A alma inteligente preso ao corpo um dia foi livre e contemplou o mundo das idéias, mas as esqueceu. É somente através da busca do conhecimento, através de um processo de recordação, de reminiscência o homem pode lembrar-se das idéias que um dia contemplou.   A realidade sem forma, sem cor, impalpável só pode ser contemplada pela inteligência, que é o guia da alma.
Platão divide a alma em três partes. O lado racional está localizado na cabeça, seu objetivo é controlar os dois outros lados, com ele adquirimos a sabedoria e a prudência. O lado irascível está localizado no coração, seu objetivo é fazer prevalecer os sentimentos e a impetuosidade, com ele adquirimos a coragem. Por último, temos o lado concupiscente que está localizado no baixo-ventre, seu objetivo é satisfazer os desejos e apetites sexuais, com ele adquirimos a moderação ou a temperança.  No Mito do Cocheiro, no diálogo “Fedro”, Platão compara a alma a uma carruagem puxada por dois cavalos, um branco (irascível) e um negro (concupiscível). O corpo humano é a carruagem, e o cocheiro (Razão) conduz através das rédeas (pensamentos) os cavalos (sentimentos).  Cabe ao homem através de seus pensamentos saber conduzir seus sentimentos, pois somente assim ele poderá se guiar no caminho do bem e da verdade.
           Platão afirma que não podemos ser felizes quando somos dominados pela concupiscência e pela cólera, isso porque as paixões sempre nos conduzem por caminhos perigosos e contraditórios e fazem com que os desejos e impulsos violentos de nosso corpo tirem nosso bom senso.  Já dizia Sócrates que todo vicio é ignorância. Não há nada mais deprimente do que uma pessoa que age por impulsos e é dominada pelas paixões. Ter autocontrole é essencial para sermos felizes. A felicidade só pode ser alcançada se formos capazes de dominar nossos sentimentos pela razão. A moderação é uma virtude e ela se realiza quando somos capazes de controlar a nossa concupiscência. O indivíduo moderado é aquele que não cede as suas paixões, impulsos e prazeres. Da mesma forma o indivíduo não se lançara a luta e a agressão indiscriminadamente, uma vez que a razão deve saber discernir o que é bom e mal para nossa vida, sabendo dominar a nossa alma irascível. Dessa forma, seremos felizes se através da razão soubermos controlar nossa vida, pois a virtude natural da razão é o conhecimento.


SEMANA 2: 
A Virtude Ética
Este trabalho aborda a ética aristotélica e foi elaborado tendo como base a obra “Ética a Nicômaco”. Nele procura-se analisar o aspecto da felicidade e do bem, os quais marcam a busca dos seres humanos na sua caminhada de realização, segundo o estagirita Aristóteles. O trabalho aborda também conceitos como o bem, a educação para a virtude, o equilíbrio, na tentativa de analisar o lugar da ética na vida social.
A escolha do tema se justifica pela necessidade de se compreender o valor da moral nas relações humanas e também, a possibilidade de se viver uma vida feliz, contribuindo para a criação de um mundo melhor. Segundo afirma Frateschi , os atos são ditos justos e temperantes quando são tais quais o que faria o justo ou o temperante: é justo e temperante não quem os realiza, mas quem os realiza tal como os justos e temperantes os realizam.
Para tanto, é necessário retornar ao início da ética e debater os principais conceitos desenvolvidos por Aristóteles. O trabalho enfoca resumidamente alguns pontos importantes da “Ética a Nicômaco”, como elementos do entendimento e estruturação do texto. Esboça também uma conclusão para o estabelecimento das principais etapas que contribuem para um desenvolvimento equilibrado do homem moderno.
Ética a Nicômaco foi a obra escolhida para ser analisada porque, além de tratar os assuntos éticos e morais, nos retrata ainda, nos dez livros que a compõem, o filósofo Aristóteles assumindo um papel de pedagogo. Um pai preocupado com a educação de seu filho e, acima de tudo, com a sua felicidade.
Como filósofo, o mesmo aborda que o aspecto da razão deve sempre prevalecer sobre todas as paixões, pois é somente no coletivo que o homem atinge a sua realização.
Todos devem se esforçar para a obtenção do bem comum, que é a felicidade. Assim, o tema central da filosofia ética de Aristóteles é a felicidade.
Dado que a felicidade é certa atividade da alma segundo perfeita virtude, deve-se investigar a virtude, pois assim, presumivelmente, teremos também uma melhor visão da felicidade. O verdadeiro estadista parece igualmente ocupar-se sobretudo dela, pois pretende tornar os cidadãos bons e obedientes às leis (...).


Para ele, esta é a finalidade última do ser humano, a qual justifica todo esforço do homem na obtenção desse bem. Aristóteles aborda o tema nos cinco primeiros capítulos do Livro I. Ele defende a felicidade como uma função abrangente e necessária para a realização humana. A obra, inicialmente, se constitui mais em uma defesa da teoria da felicidade do que propriamente uma análise de preceitos morais do homem. Aristóteles aborda a moral e o caráter como condição de se atingir a tal felicidade.
Tendo a ética aristotélica como pano de fundo, o trabalho pretenderá então discorrer sobre a importância da ética como instrumento necessário para que se atinja um modo de vida que conduza à felicidade.
Os objetivos específicos, que contribuirão para atingir o objetivo geral do trabalho são: reflexão acerca dos valores morais da vida em sociedade, segundo Aristóteles; problematização da importância da ética na busca do bem comum; algumas idéias centrais que compõem a ética aristotélica e a reflexão de alguns filósofos contemporâneos, que analisam o tema da Ética a Nicômaco. O método utilizado para a elaboração do trabalho foi: leitura, análise, reflexão e comentários acerca do tema.
Nessa perspectiva, este trabalho pretende analisar a ética aristotélica, verificando sua relação com a vida particular, a vida política, desenvolvida em sociedade, a perfeição das ações humanas e a autossuficiência, que desenvolveu o homem moderno.
O termo “auto-suficiente” é empregado “não com referência a um homem sozinho, vivendo uma vida de isolamento, mas também aos seus pais, filhos e esposa e aos seus amigos e concidadãos em geral” (EN I, 7, 1097b8-11) visto que o homem é, por natureza, um animal político. Ademais, sendo a virtude moral produzida pelo hábito (EN II, 1, 1103a17) e sendo a prática da virtude algo que diz respeito também às nossas ações para com os outros (V, 1, 1129b30-33), ela deve ser estimulada e efetivada na vida (política) da cidade.


A ÉTICA ARISTOTÉLICA
A questão de saber se desejamos a vida por causa do prazer ou o prazer por causa da vida, pode ser deixada de lado por enquanto. De qualquer modo, a vida e o prazer parecem indissociavelmente unidos e não admitem separação, já que não há prazer sem atividade e o prazer torna a atividade perfeita. (Aristóteles – Ética a Nicômaco)


Segundo Lorenzetti , dentre os escritos de Aristóteles, Ética à Nicômaco, é considerado um escrito maduro, com o seu sistema filosófico próprio e definitivo. O contexto em que foi escrita a Ética à Nicômaco é a fundação do Liceu em 335 a.C. a 323 a.C. A ética, nas obras Aristotélicas, é considerada como uma parte ou um capítulo da política, que antecede a própria política. Ela diz respeito ao indivíduo em seu relacionamento com o coletivo
A obra Ética a Nicômaco é composta por dez livros da ética e se apresenta dividida da seguinte maneira:
• No livro primeiro trata-se do tema felicidade.
• No livro II e até ao livro IX trata-se das virtudes.
• No livro X completa o tratado da felicidade iniciado no primeiro.

Em sua obra, Aristóteles expõe sobre o bem supremo da vida humana, o qual é a felicidade e aborda também, os mecanismos necessários para se atingir uma vida feliz, moldada em fundamentos básicos de valores éticos. Percebe-se que a ética preside e justifica todas as formas de se alcançar o bem supremo. Desta maneira, para se entender o que Aristóteles considerava felicidade, faz-se necessário compreender seu conceito sobre ela e sobre alguns princípios necessários para alcançá-la.




ALGUNS TEMAS ABORDADOS POR ARISTÓTELES, NA OBRA ÉTICA A NICÔMACO:


FELICIDADE
São Thomaz de Aquino, em consonância com Aristóteles, define a felicidade como operação própria do homem segundo a virtude numa vida perfeita . A busca da felicidade justifica a ação humana. Todos os outros bens são meios para atingir o bem maior que é a felicidade. Segundo Malinoski e Silva , em Aristóteles, toda arte e toda indagação, assim como toda ação e todo propósito, visam a algum bem; por isso foi dito que o bem é aquilo a que todas as coisas visam.
Ao abordar que toda ação tem uma finalidade, um fim a atingir, percebe-se que um bem maior, ao ser atingido, justifica os bens anteriores. Aristóteles salienta que esse bem final deve ser algo alcançável, senão não sustentaria a ação humana em busca do mesmo. De acordo com Boto: segundo o caráter, as pessoas são tais ou tais, mas é segundo as ações que são felizes ou o contrário. Portanto, as personagens não agem para imitar os caracteres, mas adquirem os caracteres graças às ações. Assim, as ações e a fábula constituem a finalidade da tragédia, e, em tudo, a finalidade é o que mais importa. 
Aristóteles apresenta vários tipos de bens a serem alcançados. Os bens relativos e os bens intrínsecos. Os relativos são os bens necessários para a vida cotidiana (bens materiais que trazem prazeres). São substituíveis sempre que necessário. Os intrínsecos são os bens supremos. A felicidade é tida como um bem supremo, todos a desejam, mas muitos a confundem com prazeres, luxúrias, honrarias, riquezas, etc. O filósofo afirma que uma mesma pessoa pode ter uma visão equivocada da felicidade, em épocas diferentes de sua vida. Para muitos, a felicidade seria algo que vem suprir o que está faltando naquele momento, como o dinheiro, a saúde, a saudade, etc. Mas é necessário entender que a felicidade é algo maior do que as partes que a compõem.
A maioria pensa que se trata de algo simples e óbvio, como o prazer, a riqueza ou as honrarias; mas até as pessoas componentes da maioria divergem entre si, e muitas vezes a mesma pessoa identifica o bem com coisas diferentes, dependendo das circunstâncias – com a saúde, quando ela está doente, e com a riqueza quando empobrece.
A felicidade é um bem final, os demais seriam pré-requisitos para atingir esse bem maior. Como a felicidade requer esses complementos, às vezes, a obtenção dos mesmos é tida como se fosse a própria felicidade.
A mesma é desejada por todos e é adquirida constantemente. Não se encontra pronta, mas em construção, feita pelo movimento das ações. É através de suas próprias ações que o homem procura obtê-la. A felicidade é um ato humano e essencial, conquistada somente pela prática de boas ações.
Mas evidentemente, como já dissemos, a felicidade também requer bens exteriores, pois é impossível, ou na melhor das hipóteses não é fácil, praticar belas ações sem os instrumentos próprios. Em muitas ações usamos amigos e riquezas e poder político com instrumentos, e há certas coisas cuja falta empana a felicidade – boa estirpe, bons filhos, beleza – pois o homem de má aparência, ou mal nascido, ou só no mundo e sem filhos, tem poucas possibilidades de ser feliz, e tê-las-á ainda menores se seus filhos e amigos forem irremediavelmente maus ou se, tendo tido bons filhos e amigos, estes tiverem morrido. Como dissemos, então, a felicidade parece requerer o complemento desta ventura, e é por isto que algumas pessoas identificam a felicidade com a boa sorte, embora outras a identificam com a Excelência .
O homem é um ser político e não consegue viver isoladamente. É vivendo socialmente que ele tem a possibilidade de se tornar virtuoso. Ao conviver com outros homens e compartilhando com seus pares, a obtenção do bem comum; o homem se torna político e engajado no contexto social em que está inserido. Quem age visando o bem comum vive feliz. Conclui-se então que, a felicidade é viver bem e se renova constantemente na própria ação do bem viver.
As relações entre comunidade e felicidade humana. A cidade ou comunidade política, constituindo-se em algo maior e mais complexo que os indivíduos, tende a um fim perfeito, maior, supremo e nobre. Por essa via, indivíduo e cidade possuem uma identidade de tendências que se resumem em configurar e conquistar a perfeição pela ação constante e pelo raciocínio que propiciam aos seres humanos meios de transformarem as suas potencialidades em ato. (.....) Aristóteles postula que o que há de melhor para o ser humano é a realização do seu fim em uma comunidade política e o relacionamento com os demais de sua espécie. Em outros termos, as ideias de perfeição e autosuficiência estão ligadas à ideia de felicidade por serem consideradas pelo autor estagirita a finalidade e os objetivos para qual tendem as ações humanas que, por fim, não podem ser realizados por indivíduos isolados e sim por intermédio da convivência amiga entre os indivíduos.
A felicidade como um bem perfeito é desenvolvida pela razão e se manifesta através do agir e no controle das emoções. Aristóteles considera que todas as ações devam ser guiadas pela razão.

RAZÃO
A razão é a condição que separa o homem dos outros animais. É uma faculdade fundamental na compreensão da felicidade. Através dela o homem pode escolher seus comportamentos e assim praticar ações virtuosas. A virtude, para Aristóteles seria conquistada através da razão e da ação. O homem se torna virtuoso através do exercício constante de executar ações conscientes e virtuosas. Somente através da prática da virtude ele alcançará a felicidade.
O que faz a marca específica do homem é o pensamento e a razão que o segue. É a atividade intelectual. Nesta encontra-se a fonte principal das alegrias do homem, ou seja, a fonte donde provém a verdadeira felicidade. Com efeito, a felicidade do homem consiste no aperfeiçoamento da atividade que lhe é própria, ou seja, na atividade segundo a razão. O homem deve, então, subordinar o sensível ao racional. A subordinação da atividade sensível à atividade racional se impõe. É o preço da felicidade humana e a condição da moral humana. Portanto, para ser feliz, o homem deve viver pela inteligência e segundo a inteligência.
A marca principal do homem é a sua atividade intelectual. Ele deve subordinar seus pensamentos e sentimentos à razão. Para ser feliz, o homem deve ser coordenado pela sua inteligência e racionalidade. A felicidade só é atingida, segundo o filósofo, quando as ações estiverem em conformidade com a razão. Segundo cita Malinoski e Silva, a atividade racional constitui a natureza própria da felicidade.
O papel da razão é fazer com que os homens entrem em acordo sobre um bem futuro. Embora eles não possam entrar em acordo quanto ao bem presente (porque medem o bem e o mal pelos seus desejos), eles podem sim concordar quanto a um bem futuro (as coisas futuras são percebidas apenas pela razão). A paz é um bem futuro que a razão indica enquanto tal.
A racionalidade é desenvolvida através do treino, no uso adequado de suas possibilidades. Nesse contexto, a educação exerce um papel primordial.

EDUCAÇÃO
A educação se constitui em um treino no uso da racionalidade. Esse treino deve começar cedo, quando se está inclinado a formar bons cidadãos. Assim, baseando-se na idéia de que vida está fundamentada em escolhas adequadas e no aprimoramento de ações boas, exige-se do indivíduo um constante exercício, dirigindo suas ações a determinados fins, com o objetivo de atingir a perfeição. Através da educação e do treino, vai-se moldando o caráter, segundo as próprias potencialidades e virtudes na prática do bem. Afirma Boto, que a educação seria então:  um rol de costumes a ser repetidamente exercitado para com as gerações mais jovens, com o fito de que estas venham a adquirir a força moral extraída de três estratégias educativas essenciais: “exortação, exemplo e envolvimento. Sob tal tripé estaria colocada a missão do educador quanto à formação dos valores: trata-se de crenças, de formação de hábitos, de constância, de perseverança, de uso repetido, de exercício refletido, de exemplos a serem seguidos, de ações ponderadas nas trilhas de um percurso sempre e inevitavelmente incerto...
A ação se transforma em hábito, juntamente com o uso da razão consciente, que proporcionará a melhor escolha, permitindo atingir o fim desejado. A felicidade surgirá como uma premiação pelos esforços dispensados nessa meta social. É pelo hábito das ações boas que a virtude vai-se instalando. A virtude não é um dom. Ela é adquirida mediante ensino e treino. O homem precisa ser educado na prática do: equilíbrio, ponderação, justiça, entre outras. O ser humano ao agir sempre da melhor maneira, se exercitará no treino da virtude e poderá atingir a meta felicidade. O homem inicia fazendo o bem diariamente e este bem se torna um treino. Esse treino, com o passar dos tempos, se torna um hábito. Esse hábito será a virtude instalada no seu repertório comportamental. Desta forma, a virtude se manifestará em todas as ações do homem bom e feliz.
Importa reter aqui que o desejo humano pode ser aperfeiçoado pela razão, o que garante, em princípio, a possibilidade da racionalidade de todas as nossas ações, o que depende, por sua vez, da educação para a virtude por meio da prática habitual de ações virtuosas. Para que seja frutífera, tal educação deve incidir sobre os prazeres e as dores, já que estes têm efeito determinante sobre as ações: “por causa do prazer cometemos atos vis, por cauda da dor nos abstemos de ações belas”. Aristóteles defende que a educação certa deve começar na infância.
A educação deve formar os cidadãos para a virtude, isto é, formar cidadãos bons por meio dos hábitos, através do comportamento baseado em atitudes virtuosas.
Essa educação se faz necessária não apenas porque há uma relação de determinação entre desejo e ação, mas também porque é marca distintiva do homem virtuoso não apenas agir virtuosamente, mas, como vimos, sentir prazer ao praticar ações nobres, justas, virtuosas. A proposta de Aristóteles não é educar para que se aprenda a agir de maneira “correta”, ainda que os nossos desejos nos empurrem para o lado oposto (tal é a moralidade cristã), mas sim educar os desejos para que sejam conformes à conduta virtuosa.
Afirma Boto, que Aristóteles reconhece a força da imitação como elemento fundador da vida social e, mais especificamente, do ensino. A arte da aprendizagem se reduz ao esquema de imitação. Esse imitar se inicia na infância e se torna um processo que perdurará enquanto houver aprendizagem.
A arte de aprender se reduz, portanto, a imitar por muito tempo e a copiar por muito tempo, como qualquer músico sabe, e qualquer pintor. E a escrita apresenta esta importante verdade àqueles que sabem ver, porque a escrita das pessoas mal instruídas são semelhantes, e as diferenças, quando existem, são efeito de extravagância ou de acidente. Por outro lado, a escrita do homem culto lhe é própria, apesar de ser mais submetida ao modelo comum.
A educação é uma possibilidade de se desenvolver a virtude, através da experiência, do tempo e do amadurecimento do homem.

VIRTUDE
A virtude se constitui no hábito das boas ações. O homem virtuoso é aquele que através do uso da racionalidade, faz sempre as melhores escolhas, podendo muitas vezes sacrificar desejos pessoais em prol do coletivo.
A razão é a condição para que o homem faça as melhores escolhas e assim se tornar o mestre e senhor de seus desejos e jamais, escravo deles. O autocontrole é uma virtude que possibilita a ação correta. Esse processo racional modela o caráter e a personalidade do homem. Por tanto, a virtude é uma qualidade que só se realiza quando se age com justiça.
A virtude é, pois, uma disposição de caráter que determina a escolha de ações e emoções e que consiste, essencialmente, na observância do meio termo relativamente a nós, o qual é, por sua vez, determinado pelo princípio racional. Não que seja fácil alcançá-la, pois tendemos por natureza mais às ações e às paixões contrárias ao meio termo, de onde se segue que somos mais facilmente levados à intemperança do que à virtude. Mas embora não seja empresa fácil, também não é impossível encontrar o meio termo e, ao menos em princípio, todos os seres racionais são capazes de fazê-lo e devem ser educados para tanto.
A virtude é como a arte, todo o excesso ou falta, são elementos destrutivos. Cabe ao homem, utilizando de sua razão, saber dosar suas ações em busca do melhor. A virtude é exata e possui como mediação o meio-termo, ou, o justo-meio.

JUSTO-MEIO
O excesso ou a carência é uma forma de erro que destrói a virtude. Segundo Lorenzetti , tanto a deficiência como o excesso de exercício destroem a força; e da mesma forma, o alimento e a bebida que ultrapassam determinados limites, tanto para mais como para menos, destroem a saúde. Afirma também Boto , sobre a mediatez eqüidistante entre dois extremos, que “tudo se passa no entre”...
Aristóteles afirma que existem dois tipos de virtudes: a virtude intelectual e a moral. A intelectual é conquistada através do ensino e aprendizagem e é reforçada pelo tempo. A virtude moral é adquirida pelo hábito e pelo exercício. É através da prática que nos tornamos virtuoso ou não. Nesse quesito as relações humanas são determinantes possibilidades de manifestarmos nossas virtudes ou não. O homem deve estar atento aos seus atos, pois é através deles que o mesmo se construirá como virtuoso.
Segundo Santillana, quando se adquire uma virtude, age-se de acordo com ela sem esforço e com prazer, porque se age de acordo com a própria natureza.
A virtude não é, diversamente da felicidade, uma atividade, senão que um hábito, ou maneira habitual de ser; como tal, não pode ser adquirida da noite para o dia, porque depende de muito exercício - repetindo certos atos o homem acaba por transformá-los numa segunda natureza, isto é, numa disposição (e não atividade) para no futuro agir sempre da mesma forma.
Afirma Boto que, pensar o justo meio em educação seria prescrever a ação sensata, aquilo que, nos termos de Aristóteles, “não é demais nem muito pouco”.
O justo-meio é uma virtude, uma espécie de mediana que equilibrará a situação. O homem deve optar por um caminho que condene ambos os extremos sendo, pois, os causadores dos excessos e dos vícios. Comenta Dias que o meio-termo é aquele ponto que se encontra em igual distância entre dois pontos extremos, mas quando se trata do homem, o meio-termo é aquilo que não peca nem por excesso e nem por defeito, e esta medida muda muito e não é única para todos os homens.
O homem que age segundo o justo-meio, se tornará um homem virtuoso, pois caminhará entre os vícios, escolhendo a virtude e atingindo um estado de felicidade pessoal. A felicidade só será alcançada com o amplo desenvolvimento dessa capacidade de caminhar no justo-termo, sem se perder nos excessos ou nas ausências de virtudes.
Segundo Lorenzetti, é pela prática dos atos justos que se gera o homem justo, é pela prática de atos temperantes que se gera o homem temperante; é através da ação que existe a possibilidade de alguém tornar-se bom. Para tanto, ele deve ser então educado no hábito das virtudes morais e fazer dessa aprendizagem, um referencial constante em sua vida.

VIRTUDES MORAIS
O homem não pode ser visto como um ser individual, mas como uma parte integrada em um contexto social amplo. Todas as ações humanas envolvem conteúdo moral e estão relacionadas a práticas específicas. As ações devem ser praticadas não apenas por parecerem corretas, mas porque, através dessas ações, o homem conquistará a própria felicidade. Optando pelas ações adequadas, exercitadas num contexto ético e moral, o homem materializa o bem, alcançando assim, a felicidade.
Toda a ação origina-se no desejo do homem. Esse desejo pode ser racional ou concupiscente. Ao fazer suas escolhas, o homem se torna o único responsável por suas virtudes ou por seus vícios. Desta forma, nos mostra Aristóteles, que a ação perfeita é fruto do esforço humano. O homem só se realiza por suas ações.
É evidente, portanto, que nenhuma das várias formas de excelência moral se constitui em nós por natureza, pois nada do que existe por natureza pode ser alterado pelo hábito. Por exemplo, a pedra, que por natureza se move para baixo, não pode ser habituada a mover-se para cima, ainda que alguém tente habituá-la jogando-a dez mil vezes para cima; tampouco o fogo pode ser habituado a mover-se para baixo, nem qualquer outra coisa que por natureza se comporta de certa maneira pode ser habituada a comportar-se de maneira diferente. Portanto, nem por natureza nem contrariamente à natureza a excelência moral é engendrada em nós, mas a natureza nos dá a capacidade de recebê-la, e esta capacidade se aperfeiçoa com o hábito
Quem não consegue realizar-se plenamente, quer seja por deficiências intelectuais ou de caráter, jamais será digno de reconhecimento e não conseguirá atingir a felicidade.A felicidade é definida como atividade da alma, dirigida pela virtude perfeita; é excelente e divina, mas não é presente dos deuses e nem produto do acaso, porque é preciso conquistá-la com muito exercício e muita prática da virtude. Para tanto é necessário indagar sobre a virtude e em que condição ela é um meio-termo para a felicidade.
Pelas ações nobres, o ser humano desenvolve suas virtudes. Pelo exercício de ações justas, passa a agir moderadamente e se torna um homem justo. Pela ação do hábito, ele se aproxima da perfeição de suas ações e se torna virtuoso. Somente desta maneira ele atingirá a felicidade. Sem essas ações, jamais o homem atingiria tão nobre condição de vida. Afirma Frateschi , os atos são ditos justos e temperantes quando são tais quais os que faria o justo ou o temperante: é justo e temperante não quem os realiza, mas quem os realiza tal como os justos e temperantes os realizam.
A sociedade, na busca do desenvolvimento de ações virtuosas desenvolve códigos de ética, aonde são descritos os princípios capazes de gerar qualidades morais e os meios necessários para a prática de ações boas e esperadas socialmente. Esses códigos atendem as exigências de uma vida social, perfeita e equilibrada. Visam à realização da pessoa, através do hábito e de uma vida harmoniosa, próspera e feliz.
O conceito de ética no pensamento filosófico de Aristóteles leva a contextualização descritiva do que é ética, na sociedade contemporânea, neste cenário se justifica a criação de códigos éticos para a conduta social, profissional e empresarial em prol de uma convivência mais harmônica, justa e livre.

AMIZADE
Dentro das virtudes morais, o aspecto amizade é um elemento importante, tanto que Aristóteles fala, no livro VIII sobre a natureza da amizade. Ele aborda que a amizade envolve convívio, semelhança, tempo e intimidade. A amizade envolve também a razão, visto que podemos escolher nossos amigos de acordo com nossos critérios. Assim, supõe-se que também somos escolhidos de acordo com critérios, como amigos ou colegas. O convívio entre amigos parece ser um facilitar da própria vivência pessoal. Junto a amigos, as pessoas parecem mais seguras para agir.
Mesmo quando viajamos para outras terras podemos observar a existência generalizada de uma afinidade e afeição natural entre as pessoas. A amizade parece também manter as cidades unidas, e parece que os legisladores se preocupam mais com ela do que com a justiça; efetivamente, a concórdia parece assemelhar-se à amizade, e eles procuram assegurá-la mais que tudo, ao mesmo tempo em que repelem tanto quanto possível o facciosismo, que é a inimizade nas cidades. Quando as pessoas são amigas não têm necessidade de justiça, enquanto mesmo quando são justas elas necessitam da amizade; considera-se que a mais autêntica forma de justiça é uma disposição amistosa. E a amizade não é somente necessária; ela também é nobilitante, pois louvamos as pessoas amigas de seus amigos, e pensamos que uma das coisas mais nobilitantes é ter muitos amigos; além disso, há quem diga que a bondade e a amizade se encontram nas mesmas pessoas.

POLÍTICA
Na obra aristotélica, a política se relaciona com a ética. Ela constitui uma ética prática, ou seja, o agir em comunidade deve seguir os mesmos preceitos éticos estabelecidos para a individual. Assim, a política exige o desenvolvimento de boas ações, apoiadas na racionalidade, na educação e na amizade entre as pessoas.
Ora, a política mostra ser dessa natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem ser estudadas num Estado, quais são as que cada cidadão deve aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica, estão sujeitas a ela.
O bom administrador deve governar direcionando suas ações para a obtenção da felicidade de todos os que compõem a comunidade. Para isso, a política deve encontrar formas de governos e instituições que favoreçam atingir o seu objetivo, que é viver uma vida feliz e harmoniosa. Segundo afirma Rocha , o objetivo da vida política é o melhor dos fins, e essa ciência dedica o melhor de seus esforços a fazer com que seus cidadãos sejam bons e capazes de nobres ações.
Para Aristóteles, a política assume o caráter de ciência e se divide em duas vertentes: uma é a ética que se preocupa com o individual e a outra é a política propriamente dita, que se preocupa com o coletivo.
Vemos que toda cidade é uma espécie de comunidade, e toda comunidade se forma com vistas a algum bem, pois todas as ações de todos os homens são praticadas com vistas ao que lhes parece um bem; se todas as comunidades visam a algum bem, é evidente que a mais importante de todas elas e que inclui todas as outras tem mais que todas este objetivo e visa ao mais importante de todos os bens; ela se chama cidade e é a comunidade política.
Para obter a felicidade, o homem deve desenvolver e exercer suas capacidades no interior do convívio social. Quem governa, deve governar com a intenção de permitir ao cidadão se desenvolver vivendo uma vida ampla e feliz. Cabe ao Estado essa obrigação com o coletivo. O coletivo é superior ao individual. Como o homem, para Aristóteles é um animal político, ele considera que o mesmo só se constituirá junto a polis, interagindo com outros homens.
Fica evidente, portanto, que a cidade participa das coisas da natureza, que o homem é um animal político, por natureza, que deve viver em sociedade, e que aquele que, por instinto e não por inibição de qualquer circunstância, deixa de participar de uma cidade, é um ser vil ou superior ao homem.

Desde antes da Grécia antiga, já se discursava sobre ética. Para Aristóteles, ela é a conduta virtuosa para a busca do bem primordial, ou seja, a felicidade, individual e consequentemente, de toda a sociedade. Composta por ações humanas formada com consciência. Afirma Goldim que, Foucault dizia que a ética grega é uma estética, ou uma poética, preocupando-se com a arte de viver, com a elaboração de uma vida bela e boa.
É no convívio social, que transparece os valores éticos e morais, assim como o desenvolvimento destes. No excesso ou na carência o homem não se beneficiará, poderá ter seu caráter prejudicado, assim como ao meio aonde vive e interage, prejudicando o social. O ser humano deve compreender de que sozinho ele não atinge a sua perfeição. Somente no contato com o outro é que ele poderá agir como homem virtuoso, ao praticar atos nobres. É na observação e reflexão que irá originar-se a doutrina do justo-meio. O comedimento, a moderação, o afastamento do excedente vem para amparar a conduta virtuosa.
De acordo com a ética aristotélica, o homem só se tornará perfeito e virtuoso, quando dominar seu caráter e agir racionalmente. Para que isso aconteça, ele deverá escolher agir guiado pelo meio-termo entre duas situações. Seguindo esse critério, ele se exercitará no hábito das boas ações, as quais o levarão ao sucesso almejado e encontrara no justo meio, a virtude, a qual se desenvolve visando o bem estar pleno do ser humano.
A felicidade é algo que todos desejam e ela só pode ser conquistada através de muito esforço. Utilizando-se da razão, o homem deverá fazer suas escolhas, consciente de que ninguém nasce virtuoso, mas que a virtude só é adquirida através do hábito das boas ações.
Segundo a ética aristotélica, a felicidade não está relacionada com os prazeres, nem implica em honrarias, mas se estrutura em uma vida repleta de posturas e comportamentos virtuosos. A virtude é uma qualidade positiva que faz com que o indivíduo aja de forma a fazer o bem para si e para os outros. “Na filosofia moderna, a palavra “virtude” passou a designar a força da alma ou do caráter. Neste sentido, designa uma disposição moral para o bem. (...) a coragem, a justiça, a lealdade” .
A política é um dos fatores determinantes na possibilidade de desenvolver as qualidades morais. É a expressão maior na qual a convivência fará os indivíduos convergirem para um determinado fim. Muitas vezes, as pessoas são obrigadas a abrir mão de seus próprios ideais, para atingir o ideal coletivo.
O ser humano é destinado a ser feliz e perfeito. A ética aristotélica permite a ele a contextualização desse potencial. A ética do meio-termo foi elaborada para os contemporâneos, mas também se aplica em nossos dias. Ela aborda o agir do homem como animal político, que tem linguagem e deve fazer escolhas lógicas se quiser ser feliz.
O homem necessita de sabedoria e prudência para o trato com o mundo. Não é agir de qualquer jeito, mas de forma ordenada, generosa, que promova a pessoa e os direitos do outro e o bem coletivo. O fim do homem é, pois, o de realizar, pelo exercício de sua liberdade, a perfeição de sua natureza, compreendendo a necessidade de atingir uma sociedade mais justa e integra.
Procurando estabelecer uma aplicação de tal conceito, creio que não seria um equívoco demonstrar que, em um processo de convivência, onde as partes têm interesses diferentes, chegar à satisfação de todos, é o que podemos chamar de virtude. Enquanto que seus opostos almejam por uma determinada situação, isso implica em que cada um abra mão de alguns pontos de vista individual em beneficio do coletivo. Ao sacrificar os desejos individuais pelo bem coletivo o homem demonstra a virtude de seu caráter. Desta forma, pode-se supor que a violência e demais infrações, que provocam danos a outras pessoas, possivelmente não existiriam, se todos agissem segundo o “meio-justo” da ética de Aristóteles.
A ética é importante para a estruturação do social. A sua falta pode provocar a destruição de uma sociedade. Ao seguir sua orientação, teremos uma verdadeira ciência voltada à conduta humana, que garante a obtenção da felicidade através de uma vida regida por virtudes morais e éticas. A razão deve direcionar as ações e com isso dominar os vícios criando bons hábitos. A mediana entre as atitudes, as condutas e as decisões, é o mais importante para estabelecer o equilíbrio e proporcionar o bem, assim como o desenvolvimento harmonioso do ser em seu meio.
A sociedade brasileira, nas últimas décadas, vem sofrendo grandes alterações, principalmente se considerarmos o comportamento dos cidadãos, as crenças e os valores culturais. Ao considerar-se o exposto no Livro IV de sua Ética a Nicômaco, percebemos que a sociedade atual, vive de extremos. A lógica do consumismo, do individualismo, da competição, parece fazer valer uma ética individualista resultando na própria exclusão social.
Na tentativa de se atingir o bem coletivo, há a necessidade do cumprimento do exercício de uma virtude obrigatória, com existência de órgãos fiscalizadores e controladores necessários, pois alguns ainda não atingiram plenamente a situação de virtude e do bem coletivo. Quando o homem social deixa de ser virtuoso, o coletivo é obrigado a intervir com sansões reparadoras, seja no lar, na escola e na sociedade em geral. Conduta ética regida por códigos normativos é relevante por estar presente nas menores atitudes e fica claro que em todas as situações existem uma maneira certa, prudente e justa, de decidir e conduzir uma tarefa específica.
Os estudos de Aristóteles podem auxiliar na ocorrência de uma mudança, com maior responsabilidade social e ambiental e comprometimento com o futuro da coletividade e do bem comum. Necessária também para o desenvolvimento e sustentabilidade com o meio a qual estamos inseridos. Seguir a virtude pode transformar as pessoas, seus propósitos e as relações sociais. Ao integrar e reintegrar os princípios éticos e morais desenvolvem-se um espírito humano, possivelmente mais crítico e consciente de seu dever cívico para conquista de seus direitos.
Podemos concluir que a ética aristotélica se apresenta como fator importante na transformação das percepções e do comportamento humano, refletindo suas conseqüências. Através dela poder-se-ia educar a todos os cidadãos para a conquista de um mundo mais harmonioso e fundamentado no respeito aos valores culturais, morais, cívicos e humanos. Nota-se que a sociedade é um fator de aprimoramento de nossa capacidade de fazer sempre a melhor escolha. A teoria de Aristóteles apresentar o homem como um ser dotado de capacidade de agir e de raciocinar sobre seus atos e escolhas. Ela nos mostra o homem capaz de fazer opções e se tornar cada vez melhor pela prática dos hábitos virtuosos.
A virtude está em nosso poder, do mesmo modo que o vício, pois quando depende de nós o agir, também depende o não agir, e vice-versa, de modo que quando temos o poder de agir quando isso é nobre, também temos o de não agir quando é vil; e se está em nosso poder o não agir quando isso é nobre, também está o agir quando isso é vil. Logo, depende de nós praticar atos nobres ou vis, e se é isso que se entende por ser bom ou mau, então depende de nós sermos virtuosos ou viciosos.
Pode-se então concluir que o homem contemporâneo, ao fazer uso de sua capacidade racional, consegue atingir a própria felicidade. Desta forma, a felicidade é uma questão individual a ser desenvolvida no relacionamento social. É no racional que o homem domina a sua própria natureza. A razão deve sempre prevalecer sobre a sensibilidade. Somente agindo guiado pelo racional e dentro dos padrões da virtude e da moral, o homem vai se disciplinando para conquistar a verdadeira felicidade. Ser feliz é ser capaz de viver com inteligência, fazendo escolhas adequadas e se disciplinando. A felicidade pode se apresentar de várias formas exteriormente, mas é somente em seu interior que o homem consegue atingi - la plenamente. Segundo Malinoski e Silva, a atividade racional constitui a natureza própria da felicidade.

O que faz a marca específica do homem é o pensamento e a razão que o segue. É a atividade intelectual. Nesta encontra-se a fonte principal das alegrias do homem, ou seja, a fonte donde provém a verdadeira felicidade. Com efeito, a felicidade do homem consiste no aperfeiçoamento da atividade que lhe é própria, ou seja, na atividade segundo a razão. O homem deve, então, subordinar o sensível ao racional. A subordinação da atividade sensível à atividade racional se impõe. É o preço da felicidade humana e a condição da moral humana. Portanto, para ser feliz, o homem deve viver pela inteligência e segundo a inteligência. (.......) Mas evidentemente, como já dissemos, a felicidade também requer bens exteriores, pois é impossível, ou na melhor das hipóteses não é fácil, praticar belas ações sem os instrumentos próprios. Em muitas ações usamos amigos e riquezas e poder político com instrumentos, e há certas coisas cuja falta empana a felicidade – boa estirpe, bons filhos, beleza – pois o homem de má aparência, ou mal nascido, ou só no mundo e sem filhos, tem poucas possibilidades de ser feliz, e tê-las-á ainda menores se seus filhos e amigos forem irremediavelmente maus ou se, tendo tido bons filhos e amigos, estes tiverem morrido. Como dissemos, então, a felicidade parece requerer o complemento desta ventura, e é por isto que algumas pessoas identificam a felicidade com a boa sorte, embora outras a identificam com a Excelência.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ARISTÓTELES, Pensamentos , disponível em : < http://www.novaacropole.org.br/ filosofia/ filosofos/ aristoteles.html> acesso em:25/09/2011

AQUINO, S. T., Comentário à Ética a Nicômaco , de Aristóteles, (Condensado) , L.2, C.11., p.119. Disponível em : www.documentacatholicaomnia.eu/.../1225-1274,_Thomas_ Aquinas,. Acesso em: 02/out/2011


BOTO, C. A ética de Aristóteles e a Educação (abril 2002). Disponível em: . Acesso em 04 out 2011


DIAS, G. A. Resumo de ética a Nicômaco de Aristóteles ( 30 mar 2006), disponível em < http://pt.shvoong.com> Acesso em: 22 set 2011.

FERREIRA, A.R.,Reflexões:Da Ética Aristotélica Para A Ética Na Sociedade Brasileira Atual : Artigo científico, Ilhéus (BA), Maio / 2008, disponível em: acesso em: 16/set/2011

FRATESCHI, Y. Virtude e Felicidade em Aristóteles e Hobbes, Journal of Ancient Philosophy ,Vol. II 2008 Issue 2.

GOLDIM, J.R., Ética e Contemporaneidade, 1996-2000 disponível em : < http://www.ufrgs.br/ bioetica/etica.htm> acesso em: 28/09/2011.

JAPIASSÚ, H. e MARCONDES. D., Dicionário Básico de Filosofia , Rio de Janeiro:



SEMANA 3: 
A virtude da razão prática


Ética aristotélica
A ética de Aristóteles estabelece como ponto de partida que o fim último de todo ser humano é a felicidade. Segundo Aristóteles, para chegar à felicidade, deve ser analisado a natureza humana. Desta maneira chega-se à conclusão de que a cada ser é feliz realizando a atividade que lhe é própria e natural. Isto é, o homem é feliz sendo homem e levando a cabo atividades próprias dos homens.
A forma mais perfeita, e a sua vez irrealizável, de atingir a felicidade é a atividade contemplativa. No entanto, este tipo de felicidade é própria dos deuses. O ser humano, devido a suas necessidades, tem de conformar com uma felicidade limitada, consistente na posse de bens corporales e exteriores e que sem as virtudes morais não poderia ser conseguido.
Dentro do ser humano, para Aristóteles, existem dois tipos de virtudes fundamentais. As virtudes intelectuais, dedicadas a aperfeiçoar o conhecimento, e as virtudes morais que aperfeiçoam a forma de ser da cada pessoa. Entre as virtudes intelectuais encontra-se a prudência, virtude de grande importância para Aristóteles na vida prática.
Por outra parte, as virtudes morais são definidas por Aristóteles como hábitos que nos permitem eleger entre o mais correto e conveniente dentro de um meio-termo racionalmente estabelecido. Por isso é importante a prudência, já que nos ajuda a estipular um meio-termo.
Além da prudência, Aristóteles outorga um local relevante a outras virtudes como são a justiça e a amizade.
Ética a Nicómaco é a obra de Aristóteles mais importante sobre a moral. Consta de dez livros, compostos a sua vez de dez capítulos. Apresenta a estrutura seguinte:
Livro I: determina-se em que consiste a felicidade e se chega à conclusão de que a felicidade perfeita se atinge mediante a atividade intelectual. Também se faz uma distinção entre virtudes intelectuais (dianoéticas) e morais (éticas).
Livros II-V: estudam-se as virtudes morais (meio-termo, justiça).
Livro VI: estudam-se as virtudes intelectuais.
Livro VII: fazem-se considerações sobre a incontinência e o prazer.
Livros VIII-IX: estuda-se a amizade e suas diferentes formas.
Livro X: tratam-se dois temas fundamentalmente, o prazer e a vida contemplativa como ideal de felicidade perfeita.
Idéias fundamentais do livro VI da obra:
Este livro divide-se em oito capítulos e, como citei anteriormente, trata sobre o tema das virtudes intelectuais ou dianoéticas.
Capítulo primeiro: narra-se o passo das virtudes morais às intelectuais. As virtudes intelectuais pertencem à parte racional da alma, a qual se divide em parte científica e calculadora.
Capítulo segundo: distinguem-se duas idéias fundamentais: a) as virtudes intelectuais são ordens que beneficiam o lucro da verdade; b) a verdade própria de parte-a calculadora é a verdade conforme com o desejo reto.
Capítulo terceiro: Aristóteles especifica cinco virtudes intelectuais: intelecto, sabedoria, ciência, arte ou técnica e prudência. Define ademais a ciência por ser necessária e demonstrativa.
Capítulo quarto: neste capítulo trata-se sobre a arte ou técnica. A arte é um hábito referido à produção e dirigido por uma razão verdadeira.
Capítulo quinto: Agora Aristóteles se centra em uma virtude de ação, a prudência. A prudência é a ajuda ao ser humano a distinguir entre o bom e o mau. Esta virtude junto da arte são as que se ocupam da atividade humana, segundo Aristóteles o que pode ser de outra maneira de como é.
Capítulo sexto: Neste capítulo explica-se o intelecto como a capacidade de intuir os princípios dos que parte toda demonstração de uma ciência.
Capítulo sétimo: Explica-se a sabedoria. A sabedoria é uma das virtudes que cobrem o âmbito do conhecimento teórico e que une a ciência à intuição dos princípios últimos. Deve ser distinguido claramente da prudência, já que a sabedoria é um conhecimento universal de realidades excelsas e a prudência atende ao particular e concreto dos bens humanos.
Capítulo oitavo: Aristóteles trata novamente da prudência explicando seu laço com a política e reiterando seu caráter particular relacionado com a experiência.
Resumo da cada capítulo do livro VI:
Capítulo primeiro: as partes da alma racional: virtudes intelectuais e morais
A alma rege-se por dois tipos de virtudes, as morais e as do intelecto. A alma divide-se em racional e irracional e a alma racional, a sua vez, divide-se em outras duas partes. Uma parte com a que somos capazes de compreender os princípios que não podem ser de outra maneira e outra que sim possui esta faculdade. A primeira parte denomina-se científica e a segunda calculativa. Ademais devemos achar a virtude na melhor disposição da cada uma.
Capítulo segundo: a eleição: raciocínio verdadeiro e desejo reto
Na alma três princípios regem a ação que são: a sensação, o entendimento e o desejo. A sensação não participa da ação. No desejo, a perseguição e fugida correspondem-se com afirmação e negação no pensamento e, como a virtude moral está condicionada à eleição, razão e desejo devem de coincidir. Isto é, o raciocínio tem que ser verdadeiro e o desejo reto para que a eleição seja boa. O entendimento e a verdade por sua vez pertencem à parte prática, o que permite que verdade e desejo reto estejam de acordo.
O princípio da ação persegue o fim da eleição. Por isso, não teria eleição sem entendimento, reflexão e disposição moral. Ademais, o entendimento é prático e criador. Tudo se leva a cabo com um fim e, o objeto do desejo é, precisamente, fazer bem esse fim.
Portanto, as disposições que mais beneficiem à obra das partes intelectivas, isto é, a verdade, serão as virtudes de ambas.
Capítulo terceiro: as cinco virtudes intelectuais. A ciência
As virtudes intelectuais somam cinco: a arte, a ciência, a prudência, a sabedoria e o intelecto.
A ciência pode ser definido como necessária e eterna, não pode ser de outra maneira. Toda ciência deve ser ensinada e, por tanto, todo o que implica deve ser aprendido. Para isso podem ser utilizado diferentes métodos como o silogismo e a indução, o que significa que a ciência é demonstrativa.
Capítulo quarto: a técnica ou arte
Entre as coisas que podem ser de outra maneira se distingue a ação e a produção. Portanto, também será diferente a disposição racional para a ação da disposição para a produção. Já que, toda técnica ou arte tem como missão criar e construir, então, se acha dentro do que é objeto de produção e vai acompanhado da razão verdadeira.
Capítulo quinto: a prudência
A prudência encontra-se nos homens prudentes, aqueles que buscam o melhor e mais conveniente para si mesmos. O homem prudente é a sua vez reflexivo, mas só reflete sobre o que pode demonstrar, o que pode ser de outra forma.
A prudência não é uma ciência, nem uma arte, nem uma técnica, é uma disposição racional verdadeira e prática respeito do que é bom e mau para o homem.
Aristóteles considera aos administradores e políticos homens prudentes, por exemplo Pericles.
A prudência, ademais, é uma virtude de uma das duas partes racionais da alma. Mas não é só uma disposição racional já que a prudência não pode ser esquecido.
Capítulo sexto: o intelecto
A ciência é demonstrativa e parte de uns princípios fundamentais (ciência, prudência, sabedoria, técnica ou arte ...). Estes princípios ou formas de conhecimento mediante as que atingimos a verdade, não podem ser objeto de demonstração, simplesmente se intuyen e a capacidade de intuir estes princípios é o intelecto.
Capítulo sétimo: a sabedoria
A sabedoria atribui-se às pessoas mais experientes em algumas artes ou às que possuem sabedoria de modo geral. A sabedoria considera-se a forma mais perfeita de conhecimento, une a ciência com o intelecto. Os sábios devem conhecer os princípios últimos e possuir a verdade sobre eles.
Deve ser tido claro que a sabedoria é uma forma de conhecimento universal que se ocupa do que é mais excelente por natureza, não pode ser considerado a política ou a prudência o mais excelente já que atendem ao particular, ao prático e têm por objeto o humano, o que pode ser deliberado.
Capítulo oitavo: a prudência e a política. O conhecimento do particular
A essência da política e da prudência não é a mesma embora correspondam à mesma disposição. Ambas se dirigem para o particular e buscam o bem para uma pessoa ou um grupo de pessoas. Mas quando a prudência se aplica à cidade recebe o nome de política, no entanto, se se fala de um mesmo, de um único indivíduo, então se utiliza o nome de prudência.
Comentário sobre o Capítulo quinto: a prudência
Este texto segue a estrutura fundamental que Aristóteles dava a seus escritos. Primeiro diz-nos/dí-nos de que fala. Claramente o tema principal é a prudência. A prudência é um tipo de conhecimento prático (frónesis) e, portanto, relativo à ação do homem. Para Aristóteles existem dois tipos de conhecimento, um teórico cujo princípio é a ciência, e outro prático que se subdivide em arte (poiesis) e moral (praxis). A arte é um fim externo ao agente enquanto a moral é um fim interno.
O seguinte passo que dá Aristóteles é expor o tipo de método que vai utilizar para tratar o tema. Neste caso, utiliza o método inductivo, isto é, vai de casos particulares a casos gerais. Além do inductivo também se serve do método paradigmático, põe exemplos, paradigmas. Isto se justifica no texto quando Aristóteles diz que a prudência se encontra nos homens prudentes, nos que buscam o mais bom e conveniente para eles mesmos e para viver bem de modo geral. Por exemplo, põe a Pericles como protótipo de homem prudente e a todos os administradores e políticos que são como ele. A prudência poderia ser considerado de alguma maneira como o fim último da subordinación, isto é, mediante a prudência se pretende viver bem e, portanto, se se vive bem se consegue a felicidade.
Aristóteles diz-nos/dí-nos que o homem prudente é também reflexivo, no entanto isto é puramente teórico já que, ninguém reflete sobre o necessário, o que não pode ser mudado. A prudência não é ciência, nem arte, nem técnica, não há demonstração nem pode ser de outra maneira. Esta é a parte do texto na que Aristóteles diferencia a prudência de outros princípios que se lhe parecem e podem causar confusão.
Agora se chega no ponto de dar uma definição concreta de prudência e a detalha como uma “disposição racional verdadeira e prática respeito do que é bom e mau para o homem”.
Finalmente, Aristóteles clarifica que a prudência é uma virtude não uma arte e pertence a uma das duas partes racionais da alma, a que forma opiniões. Ademais, há que ter em conta que a prudência não é unicamente uma disposição racional já que não poderia ser esquecido.


SEMANA 4: 
O voluntário e o involuntário, condição préviada harmonização entre a inclinação natural e a razão prática.
A virtude relaciona-se com paixões e ações, mas, um sentimento ou uma ação pode ser voluntária ou involuntária. Às paixões ou ações voluntárias dispensa-se louvor e censura, enquanto as involuntárias merecem perdão e, às vezes, piedade; por isso, é necessário distinguir entre o voluntário e involuntário. São involuntárias aquelas ações que ocorrem sob compulsão e ignorância, é compulsório ou forçado aquilo em que o princípio motor está fora de nós e para tal em nada contribui a pessoa que age ou sente a paixão. Há atos praticados para evitar males maiores:
"Se um tirano ordenasse a alguém um ato vil e esse, tendo pais e filhos em poder daquele, praticasse o ato para salvá-los de serem mortos...
Tais atos assemelham-se aos voluntários pelo fato de serem escolhidos, e o princípio motor estar no agente, por estar na pessoa fazer ou não fazer. Ações de tal espécie são voluntárias, mas, em abstrato talvez sejam involuntárias, já que ninguém as escolheria por si mesmas. As ações são forçadas quando as causas encontram-se externas ao agente e ele em nada contribuiu. O voluntário parece ser aquilo cujo motor se encontra no próprio agente que tenha conhecimento das circunstâncias particulares do ato.
Também o ato de escolher parece ser voluntário, mas não se identifica ao voluntário porque seu conceito é mais extenso. Os atos praticados sob o impulso do momento podem ser voluntários, mas não escolhidos, a escolha não é comum às criaturas irracionais pois essas agem segundo seu apetite; a escolha envolve um princípio racional e o pensamento, ela é aquilo que colocamos diante de outras coisas.
O objeto da escolha é algo que está em nosso alcance e este é desejado após a deliberação. A escolha é, portanto, um desejo deliberado. Mas como o fim é aquilo que desejamos e o meio aquilo que deliberamos e escolhemos, as ações devem concordar com a escolha e serem voluntárias. O exercício da virtude diz respeito aos meios, logo, a virtude está em nosso poder de escolha. Em outras palavras, podemos escolher entre a virtude e o vício, porque se depende de nós o agir, também depende o não agir. Depende de nós praticarmos atos nobres ou vis, ou então, depende de nós sermos virtuosos ou viciosos: "(…) O homem é um princípio motor e pai de suas ações como o é de seus filhos.
Os atos que encontram-se em nós, também devem estar em nosso poder e serem voluntários. É pelo exercício de atividades sobre objetos particulares que se formam as disposições de caráter. Não menos irracional é supor que um homem que age injustamente não deseja ser injusto, ou aquele que corre atrás de todos os prazeres não deseja ser intemperante:
"Podemos supor o caso de um homem que seja enfermo voluntariamente, por viver na incontinência e desobedecer os seus médicos. Nesse caso, a princípio dependia dele o não ser doente, mas agora não sucede assim, porquanto virou as costas à sua oportunidade. Tal como para quem arremessou uma pedra, já não é possível recuperá-la; e contudo, estava em nosso poder não arremessar, visto que o princípio motor encontrava-se no agente...
O mesmo acontece com os vícios, que a princípio dependiam dos homens não se tornarem viciosos, mas foi por sua própria vontade e escolha que tornaram-se assim. Agora, já não é possível ser diferente. Fica esclarecido que as virtudes são voluntárias, porque somos senhores de nossos atos se conhecemos as circunstâncias, e estava em nosso poder o agir ou o não agir de tal maneira. Os vícios também são voluntários, porque o mesmo se aplica a eles.
(andrêia)- é meio-termo em relação ao sentimento de medo e de confiança.
As coisas que tememos são terríveis e as qualificamos como males. Nós tememos todos os males, e temer certas coisas é até justo e nobre – é vil não temê-las. A pobreza ou a doença não devemos temer, nem aquelas coisas que procedem do vício ou aquelas que não dependem de nós; é covarde aquele que não suporta os insultos ou a inveja como deve. A bravura relaciona-se com as coisas mais nobres como a morte na guerra, e bravo é aquele que se mostra destemido em face a uma morte honrosa.
Os bravos, embora temam aquelas coisas que estão acima das forças humanas, caracterizam-se por enfrentá-las como se deve. Mas aquele que diz não ter medo, que é insensível ao que realmente é terrível, é o homem temerário; ele é um simulador de coragem, porque deseja parecer corajoso. Em contrapartida, aquele que excede no medo é covarde, porque ele teme o que não deve temer, falta-lhe confiança e é dado ao desespero por temer certas coisas.
A covardia e a temeridade são a carência e o excesso e a posição correta é a bravura.
(Sofrosíne)- é o meio-termo em relação aos prazeres e dores.
As espécies dos prazeres com que se relaciona são os prazeres corporais. Mas não se relaciona aos objetos da visão, nem da audição ou do olfato. A temperança e a intemperança relacionam-se aos prazeres do tato e do paladar.
Ao intemperante somente interessa o gozo do objeto em si, no comer e beber e na união dos sexos. Por causa dos prazeres, a intemperança é, dentre os vícios, a mais difundida; e é motivo de censura porque nos domina, não como homens, mas como animais.
O apetite é natural, mas o engano é o excesso. Os intemperantes excedem com o que não devem, e mais do que devem.
O excesso em relação aos prazeres é intemperança e é culpável, porque, nesse estado, somos levados pelo apetite. O temperante, que ocupa a posição mediana, não aprecia o que não deve, nem nada disso em excesso. Os apetites devem ser poucos e moderados, e não podem opor-se, de modo algum, ao princípio racional. No homem temperante, o elemento apetitivo harmoniza-se ao racional, o que ambos tem em mira é o nobre.
(Eleuteriótes)- é o meio-termo no dar e no receber dinheiro. O excesso é a prodigalidade e a deficiência é a avareza.
O homem liberal é louvado no tocante a dar e receber riquezas, mas é especialmente louvado aquele que sabe dar suas riquezas. O avarento quer o dinheiro mais do que deve e o pródigo esbanja a riqueza com seus prazeres. Quem melhor usa a riqueza é aquele que possui a virtude a ela associada: o homem liberal.
O homem liberal dá as quantias que convém, às pessoas que convém e na ocasião que convém, com todas as demais condições que acompanham a reta ação de dar, com prazer e sem dor. A liberalidade é uma disposição de caráter daquele que dá.
A avareza é deficiente no dar e excede no receber; a prodigalidade excede no dar e no não receber, esses não tardam em exaurir suas posses porque dão em excesso.
(Megaloprépeia)- é um meio-termo quanto ao dinheiro dado em grandes quantias; o excesso é a vulgaridade e o mau gosto, a deficiência é a mesquinhez.
É uma virtude relacionada com a riqueza, mas se estende apenas às ações que envolvem gastos. A magnificência é um gasto apropriado de grandes quantias, logo, ela deve ser apropriada ao agente e às circunstâncias.
Sendo os gastos do homem magnificente vultuosos e apropriados, tal serão os seus resultados. Um grande dispêndio com grandes resultados. A magnificência é um atributo dos gastos honrosos, como os que se relacionam a ofertas, construções e sacrifício aos deuses. Por isso o homem pobre não pode ser magnificente, porque não tem os meios de sê-lo.
A deficiência a essa disposição de caráter é a mesquinhez; este fica aquém da medida em tudo, em tudo o que faz estuda a maneira de gastar menos e lamenta até o pouco que tem.
O excesso é a vulgaridade, porque gasta além do que é justo. Por exemplo, dá um jantar de amigos na escala de um banquete de núpcias.
(Megalopskhia)- é o meio-termo em relação à honra e à desonra. O excesso é a ‘vaidade oca’ e a deficiência é a humildade indébita.
O Justo Orgulho também pode ser chamado Magnanimidade ou Respeito Próprio. O homem magnânimo é aquele cujos mérito e pretensões são igualmente elevados, por isso essa virtude pressupõe outras, realçando-as. O homem magnânimo reclama a honra, mas aquela honra conferida ao homem bom lhe dará apenas prazer moderado, porque o Justo Orgulho relaciona-se com a honra em grande escala.
Ele é um extremo com respeito à grandeza de suas pretensões, mas é meio-termo na justiça de suas pretensões. O objetivo do homem magnânimo é a honra, e a respeito dela que ele é como deve ser.
O que fica aquém é o homem indevidamente humilde, que sendo digno de coisas boas, rouba de si o que merece e não se julga digno de coisas boas. Aqueles que ultrapassam a medida são vaidosos; todos que ignoram a si mesmos, aventuram-se a honrosos empreendimentos sem serem dignos para tal e logo fracassam.
O homem que excede no desejo à honra é o ambicioso (Afilotimia), o que fica aquém é desambicioso (Filotimia), o intermediário é o Anônimo.
A honra pode ser desejada mais ou menos do que se convém, ou da maneira e das fontes que se convém. O homem ambicioso deseja a honra mais que convém, o desambicioso não quer se honrado e fica aquém da medida.
A esta disposição de caráter o que se louva é um meio-termo no tocante à honra.
(Praótes)- é o meio-termo em relação à cólera; aquele que excede é o irascível, o que fica aquém é o pacato.
Louva-se o homem que se encoleriza justificadamente, tal homem tende a não deixar-se perturbar nem guiar-se pela paixão, mas ira-se da maneira, com as coisas e no tempo prescrito.
A deficiência é a pacatez, e essas pessoas não se encolerizam com coisas que deveriam excitar sua ira; também são chamados de tolos e insensíveis.
O excesso é o homem irascível, que encoleriza-se com coisas indevidas e mais do que convém.
(Alétheia)- é o meio-termo no tocante à verdade, o exagero é a jactância e o que a subestima é a falsa modéstia.
(Eutrapelia)- é o meio-termo na aprazibilidade no proporcionar divertimento. O excesso é a chocarrice e a deficiência a rusticidade.
(Filía)- é o meio-termo na disposição de agradar a todos de maneira devida e amável; o excesso é o obsequioso se não tiver propósito, e lisonjeiro se visa a um interesse próprio; a deficiência é a pessoa mal humorada.
(Aidémôón)- é o intermediário nas paixões e relativo a elas; aquele que excede é o acanhado e este se envergonha de tudo, enquanto aquele que mostra deficiência é o despudorado e não se envergonha de coisa alguma.
(Némesis)- é o meio-termo entre a inveja e o despeito, e refere-se à dor ou prazer da boa ou má fortuna dos outros. O excesso é a inveja, e a deficiência é o despeito.
A Justiça
(Dicaiosíne)- nela faz-se necessário distinguir as duas espécies e mostrar em que sentido cada uma delas é um meio-termo.
A justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo e a desejar o que é justo. Dessa forma, a justiça é uma virtude completa ou é muitas vezes considerada a maior das virtudes. É uma virtude completa por ser o exercício atual da virtude completa, isto é, aquele que a possui pode exercer sua virtude sobre si e sobre o próximo. Por isso se diz que somente a justiça, entre todas as virtudes, é o bem do outro, visto que é possível fazer o que é vantajoso a um outro. O melhor dos homens é aquele que exerce sua virtude para com o outro, pois essa tarefa é a mais difícil.
Há dois tipos de justiça, uma que se manifesta na distribuição das honras, de dinheiro entre aqueles que tem parte na constituição; e outra, que tem um papel corretivo nas transações entre os indivíduos; ela se divide em transações voluntárias e involuntárias.
Há quem defenda outro tipo de justiça, que não se enquadra nas citadas acima, que seria a reciprocidade. A reciprocidade não é justiça, porque pagar o mal com o mal ou o bem com o bem faz parte das ações dos cidadãos, e não caracteriza o agir justo, salvo em alguns casos.
A justiça política divide-se em natural e legal. A natural é aquela que tem a mesma força em toda parte; a legal é a justiça estabelecida. Alguns pensam que toda justiça é estabelecida porque há alterações nas coisas percebidas como justas, e se fossem naturais, teriam que ser imutáveis, como o fogo que arde em toda a parte. No entanto, ambas as espécies de justiça são mutáveis, as coisas justas por convenção assemelham-se a medidas, que não são iguais em toda parte.
No tocante à justiça, cabe destacar que é o caráter voluntário ou involuntário que determina o justo. O homem somente é justo quando age de maneira voluntária, e se age involuntariamente não é justo nem injusto, a não ser por acidente.
A alma humana possui duas partes: a que tem um princípio racional e a privada de razão. A parte racional da alma se divide em científica (direcional ou prática) e calculativa (especulativa e teórica). A calculativa é uma parte da alma que concebe um princípio racional, ela versa sobre coisas universais e teóricas, que não podem ser a não ser aquilo que são. O objeto da parte calculativa é a verdade, logo, para o conhecimento especulativo o bem se identifica com o verdadeiro e o mal com o falso.
A alma possui três elementos: a sensação, a razão e o desejo. A sensação não controla a ação, e isto pode ser percebido nos animais que têm sensação, mas não produzem ação. A razão e o desejo determinam a ação, entretanto, de modo diferente, já que a virtude moral é uma disposição para a escolha; contudo, ela envolve o desejo por um fim e a razão descobre os meios próprios para esse fim:
"A origem da ação é a escolha, e da escolha é o desejo e o raciocínio com um fim em vista. Eis aí por que a escolha não pode existir nem sem razão nem sem intelecto, nem sem uma disposição moral".
O puro pensamento nada anima, somente possui um poder animador assim dirigido para um fim; o homem, visto como um autor de ação, é uma união do desejo com a razão. A virtude de uma e de outra, devem constituir-se aquilo que permite chegar à verdade.
As disposições, pelas quais a alma possui a verdade, são cinco: a arte, o conhecimento científico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a razão intuitiva.
A coragem
(andrêia)- é meio-termo em relação ao sentimento de medo e de confiança.
As coisas que tememos são terríveis e as qualificamos como males. Nós tememos todos os males, e temer certas coisas é até justo e nobre – é vil não temê-las. A pobreza ou a doença não devemos temer, nem aquelas coisas que procedem do vício ou aquelas que não dependem de nós; é covarde aquele que não suporta os insultos ou a inveja como deve. A bravura relaciona-se com as coisas mais nobres como a morte na guerra, e bravo é aquele que se mostra destemido em face a uma morte honrosa.
Os bravos, embora temam aquelas coisas que estão acima das forças humanas, caracterizam-se por enfrentá-las como se deve. Mas aquele que diz não ter medo, que é insensível ao que realmente é terrível, é o homem temerário; ele é um simulador de coragem, porque deseja parecer corajoso. Em contrapartida, aquele que excede no medo é covarde, porque ele teme o que não deve temer, falta-lhe confiança e é dado ao desespero por temer certas coisas.
A covardia e a temeridade são a carência e o excesso e a posição correta é a bravura.
A Temperança
(Sofrosíne)- é o meio-termo em relação aos prazeres e dores.
As espécies dos prazeres com que se relaciona são os prazeres corporais. Mas não se relaciona aos objetos da visão, nem da audição ou do olfato. A temperança e a intemperança relacionam-se aos prazeres do tato e do paladar.
Ao intemperante somente interessa o gozo do objeto em si, no comer e beber e na união dos sexos. Por causa dos prazeres, a intemperança é, dentre os vícios, a mais difundida; e é motivo de censura porque nos domina, não como homens, mas como animais.
O apetite é natural, mas o engano é o excesso. Os intemperantes excedem com o que não devem, e mais do que devem.
O excesso em relação aos prazeres é intemperança e é culpável, porque, nesse estado, somos levados pelo apetite. O temperante, que ocupa a posição mediana, não aprecia o que não deve, nem nada disso em excesso. Os apetites devem ser poucos e moderados, e não podem opor-se, de modo algum, ao princípio racional. No homem temperante, o elemento apetitivo harmoniza-se ao racional, o que ambos tem em mira é o nobre.
A Liberalidade
(Eleuteriótes)- é o meio-termo no dar e no receber dinheiro. O excesso é a prodigalidade e a deficiência é a avareza.
O homem liberal é louvado no tocante a dar e receber riquezas, mas é especialmente louvado aquele que sabe dar suas riquezas. O avarento quer o dinheiro mais do que deve e o pródigo esbanja a riqueza com seus prazeres. Quem melhor usa a riqueza é aquele que possui a virtude a ela associada: o homem liberal.
O homem liberal dá as quantias que convém, às pessoas que convém e na ocasião que convém, com todas as demais condições que acompanham a reta ação de dar, com prazer e sem dor. A liberalidade é uma disposição de caráter daquele que dá.
A avareza é deficiente no dar e excede no receber; a prodigalidade excede no dar e no não receber, esses não tardam em exaurir suas posses porque dão em excesso.
A Magnificência
(Megaloprépeia)- é um meio-termo quanto ao dinheiro dado em grandes quantias; o excesso é a vulgaridade e o mau gosto, a deficiência é a mesquinhez.
É uma virtude relacionada com a riqueza, mas se estende apenas às ações que envolvem gastos. A magnificência é um gasto apropriado de grandes quantias, logo, ela deve ser apropriada ao agente e às circunstâncias.
Sendo os gastos do homem magnificente vultuosos e apropriados, tal serão os seus resultados. Um grande dispêndio com grandes resultados. A magnificência é um atributo dos gastos honrosos, como os que se relacionam a ofertas, construções e sacrifício aos deuses. Por isso o homem pobre não pode ser magnificente, porque não tem os meios de sê-lo.
A deficiência a essa disposição de caráter é a mesquinhez; este fica aquém da medida em tudo, em tudo o que faz estuda a maneira de gastar menos e lamenta até o pouco que tem.
O excesso é a vulgaridade, porque gasta além do que é justo. Por exemplo, dá um jantar de amigos na escala de um banquete de núpcias.
O Justo Orgulho
(Megalopskhia)- é o meio-termo em relação à honra e à desonra. O excesso é a ‘vaidade oca’ e a deficiência é a humildade indébita.
O Justo Orgulho também pode ser chamado Magnanimidade ou Respeito Próprio. O homem magnânimo é aquele cujos mérito e pretensões são igualmente elevados, por isso essa virtude pressupõe outras, realçando-as. O homem magnânimo reclama a honra, mas aquela honra conferida ao homem bom lhe dará apenas prazer moderado, porque o Justo Orgulho relaciona-se com a honra em grande escala.
Ele é um extremo com respeito à grandeza de suas pretensões, mas é meio-termo na justiça de suas pretensões. O objetivo do homem magnânimo é a honra, e a respeito dela que ele é como deve ser.
O que fica aquém é o homem indevidamente humilde, que sendo digno de coisas boas, rouba de si o que merece e não se julga digno de coisas boas. Aqueles que ultrapassam a medida são vaidosos; todos que ignoram a si mesmos, aventuram-se a honrosos empreendimentos sem serem dignos para tal e logo fracassam.
Anônimo
O homem que excede no desejo à honra é o ambicioso (Afilotimia), o que fica aquém é desambicioso (Filotimia), o intermediário é o Anônimo.
A honra pode ser desejada mais ou menos do que se convém, ou da maneira e das fontes que se convém. O homem ambicioso deseja a honra mais que convém, o desambicioso não quer se honrado e fica aquém da medida.
A esta disposição de caráter o que se louva é um meio-termo no tocante à honra.
A Calma
(Praótes)- é o meio-termo em relação à cólera; aquele que excede é o irascível, o que fica aquém é o pacato.
Louva-se o homem que se encoleriza justificadamente, tal homem tende a não deixar-se perturbar nem guiar-se pela paixão, mas ira-se da maneira, com as coisas e no tempo prescrito.
A deficiência é a pacatez, e essas pessoas não se encolerizam com coisas que deveriam excitar sua ira; também são chamados de tolos e insensíveis.
O excesso é o homem irascível, que encoleriza-se com coisas indevidas e mais do que convém.
A Veracidade
(Alétheia)- é o meio-termo no tocante à verdade, o exagero é a jactância e o que a subestima é a falsa modéstia.
A Pessoa Espirituosa ou Espírito
(Eutrapelia)- é o meio-termo na aprazibilidade no proporcionar divertimento. O excesso é a chocarrice e a deficiência a rusticidade.
A Amabilidade
(Filía)- é o meio-termo na disposição de agradar a todos de maneira devida e amável; o excesso é o obsequioso se não tiver propósito, e lisonjeiro se visa a um interesse próprio; a deficiência é a pessoa mal humorada.
A Modéstia
(Aidémôón)- é o intermediário nas paixões e relativo a elas; aquele que excede é o acanhado e este se envergonha de tudo, enquanto aquele que mostra deficiência é o despudorado e não se envergonha de coisa alguma.
A Justa Indignação
(Némesis)- é o meio-termo entre a inveja e o despeito, e refere-se à dor ou prazer da boa ou má fortuna dos outros. O excesso é a inveja, e a deficiência é o despeito.
A Justiça
(Dicaiosíne)- nela faz-se necessário distinguir as duas espécies e mostrar em que sentido cada uma delas é um meio-termo.
A justiça é a disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo e a desejar o que é justo. Dessa forma, a justiça é uma virtude completa ou é muitas vezes considerada a maior das virtudes. É uma virtude completa por ser o exercício atual da virtude completa, isto é, aquele que a possui pode exercer sua virtude sobre si e sobre o próximo. Por isso se diz que somente a justiça, entre todas as virtudes, é o bem do outro, visto que é possível fazer o que é vantajoso a um outro. O melhor dos homens é aquele que exerce sua virtude para com o outro, pois essa tarefa é a mais difícil.
Há dois tipos de justiça, uma que se manifesta na distribuição das honras, de dinheiro entre aqueles que tem parte na constituição; e outra, que tem um papel corretivo nas transações entre os indivíduos; ela se divide em transações voluntárias e involuntárias.
Há quem defenda outro tipo de justiça, que não se enquadra nas citadas acima, que seria a reciprocidade. A reciprocidade não é justiça, porque pagar o mal com o mal ou o bem com o bem faz parte das ações dos cidadãos, e não caracteriza o agir justo, salvo em alguns casos.
A justiça política divide-se em natural e legal. A natural é aquela que tem a mesma força em toda parte; a legal é a justiça estabelecida. Alguns pensam que toda justiça é estabelecida porque há alterações nas coisas percebidas como justas, e se fossem naturais, teriam que ser imutáveis, como o fogo que arde em toda a parte. No entanto, ambas as espécies de justiça são mutáveis, as coisas justas por convenção assemelham-se a medidas, que não são iguais em toda parte.
No tocante à justiça, cabe destacar que é o caráter voluntário ou involuntário que determina o justo. O homem somente é justo quando age de maneira voluntária, e se age involuntariamente não é justo nem injusto, a não ser por acidente.
As Virtudes intelectuais
A alma humana possui duas partes: a que tem um princípio racional e a privada de razão. A parte racional da alma se divide em científica (direcional ou prática) e calculativa (especulativa e teórica). A calculativa é uma parte da alma que concebe um princípio racional, ela versa sobre coisas universais e teóricas, que não podem ser a não ser aquilo que são. O objeto da parte calculativa é a verdade, logo, para o conhecimento especulativo o bem se identifica com o verdadeiro e o mal com o falso.
A alma possui três elementos: a sensação, a razão e o desejo. A sensação não controla a ação, e isto pode ser percebido nos animais que têm sensação, mas não produzem ação. A razão e o desejo determinam a ação, entretanto, de modo diferente, já que a virtude moral é uma disposição para a escolha; contudo, ela envolve o desejo por um fim e a razão descobre os meios próprios para esse fim:
"A origem da ação é a escolha, e da escolha é o desejo e o raciocínio com um fim em vista. Eis aí por que a escolha não pode existir nem sem razão nem sem intelecto, nem sem uma disposição moral".
O puro pensamento nada anima, somente possui um poder animador assim dirigido para um fim; o homem, visto como um autor de ação, é uma união do desejo com a razão. A virtude de uma e de outra, devem constituir-se aquilo que permite chegar à verdade.
As disposições, pelas quais a alma possui a verdade, são cinco: a arte, o conhecimento científico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a razão intuitiva.
  • ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd Bornheim da versão inglesa de W. D. Rosá. Col. Os pensadores. São Paulo: Editora Abril Cultural, 1973..
  • CHAUÍ, Marilena de Souza. Introdução à história da filosofia:dos pré-socráticos a Aristóteles, vol. 01. São Paulo: Brasiliense, 1994.
  • DURANT, Will. Os grandes pensadores. 7a ed. Trad. de Monteiro Lobato. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967.
  • FRAILE, Guilhermo. História de la filosofía. 4a Ed. Madrid: Biblioteca de autores Cristianos, 1976.
  • LADRIERE, Jean. Os desafios da racionalidade. Petrópolis: Editora Vozes, 1979.
  • PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luís. História da filosofia. São Paulo: Edições Melhoramentos, 1954.
  • REALLE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da filosofia, vol I. 2a Ed. São Paulo: Paulus, 1991.
  • ________. História del pensamiento filosofico y científico. Tomo I – Antiguedad y edad media. Barcelona: Editorial Herder, 1988.
  • ROSS, Sir David. Aristóteles. Biblioteca de filosofia. Buenos Aires: sudamericana, 1957.


 SEMANA 5:
 A Tendência não correta ao fim: o mal moral
Aristóteles entende que a pessoa que não apreendeu os valores e a maturidade ética é denominada como analfabeto moral. Ele define cinco perfis de pessoas viciosas.
1. Alokastos: É a busca pelo prazer no desejo do agradável. Depois vem o arrependimento por deixar-se arrastar pelo prazer. É o caso das crianças que são levadas pelo desejo do agradável.
2. Malakos: Aquele que busca fugir da dor a todo custo, evitando-a ao máximo. Quando não resiste às tentações, o homem torna-se mole e voluptuoso.
3. Theriotes: É aquela pessoa que foge dos padrões humanos, tornando-se monstruoso. É o oposto ao ente divino.
4. Acrasia: É a fraqueza da vontade. Mesmo conhecendo aquilo que é o bem, comete o que mal. Isso vem em consequência de uma paixão arrebatadora e irresistível: enquanto desejam uma coisa, realmente querem outras. São pessoas fracas de vontade. Sabem o que é o bem, mas são tomadas por impulsos que as faz cometer coisas erradas. É como a cidade que tem todas as suas leis para funcionar bem, mas não usa elas.
5. Kakos: o vicioso satisfeito e em paz consigo mesmo. É aquela pessoa que adquiriu um hábito ruim de forma voluntária e que se tornou um hábito vicioso.
Aqui temos uma melhor distinção entre o que é vicioso e virtuoso.
Virtude: A pessoa virtuosa é aquela que vai tender sempre para o fim bom e, mediante a deliberação, vai atingi-lo da melhor forma. É quando o raciocínio prático é verdadeiro e o desejo é correto. É a marca das virtudes éticas que buscam o bem como fim último.
Tendo claro essa compreensão de virtude, sabe-se distinguir bem o vicioso (o malvado). Essa distinção virá pela sabedoria prática da razão.
Vício: Aristóteles diz que a pessoa viciosa delibera corretamente tendo em vista um fim errado. A sua capacidade não pode ser considerada sabedoria, mas simples astúcia. O desejo dessa pessoa é totalmente desequilibrado e irracional. A vontade não é submetida à deliberação e fica somente na esfera dos desejos.
O desejo pode ser bom ou ruim. Quem vai definir se o desejo é bom é a submissão do desejo às convenções aceitas pela Pólis, pela família e pela instituição. Mas as regras sozinhas não resolvem tudo. Aqui a razão prática vai dizer o que é virtude e o que é vício.
A pessoa agirá de acordo com o ambiente em que foi criado, sendo moldado pelo meio. Aristóteles vê o malvado como aquele que não teve uma boa educação e não aprendeu as normas. O kakos acha que está fazendo o bem pelo fato de ter aprendido errado. O perverso fica numa confusão mental que não lhe deixa distinguir o bem do mal.
O desejo do homem malvado é uma tendência contra a natureza, fruto de uma educação desgovernada e de uma perversão da mente. O malvado é uma pessoa sem discernimento e, se o tivesse, funcionaria de forma errada.
Todos, bons e maus, agem tendo em vista o que acham bom para elas. Mas somente o homem bom aspira o que verdadeiramente bom. O vicioso não conhece o fim realmente bom. Vive numa confusão moral.
Aristóteles vê o malvado como um homem ordinário e comum, e não demoníaco ou monstruoso. O que lhe falta é refletir o pensamento, o que o leva a atitudes que não consegue distinguir. Sendo um homem comum, ele é responsável por querer tornar-se moralmente doente ou por querer manter a saúde ética. O kakos não sabe o que é realmente bom, mas ele é responsável pela perversão do seu estado mental.
A ignorância do vicioso é o fruto da negligência e por essa negligência ele merece ser censurado. Mas, de outra parte, nem tudo aquilo que é resultado da ignorância é punido, nem tudo é perdoado. O kakos age injustamente com a firme persuasão de que está agindo bem, sem provar arrependimento. As pessoas que não tem arrependimento não têm cura.
O perverso age em harmonia consigo mesmo. Nisso ele se assemelha com o virtuoso: os dois agem voluntariamente, com prazer e em harmonia consigo mesmo. A diferença está no resultado final de suas ações. Não é só querer desejar, mas é preciso fazê-lo de forma humana, isto é, moral, que buscam fins bons direcionados pela razão prática.

Fonte: Material didático elaborado pela Professora Barbara Botter para a disciplina Ética 2 UFES - 2016.
  



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